Os Prémios Grünenthal Dor são entregues esta sexta-feira, dia 17 de Outubro, a dois grupos de investigação da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP). Cada uma das equipas vai receber 7500 euros pelos seus trabalhos na área da dor crónica e da cistite. 

Os prémios dividem-se em duas categorias: investigação básica e investigação clínica. O primeiro prémio foi para o trabalho liderado pela jovem cientista Ana Coelho, que se debruça sobre os efeitos da ministração de botox em ratos com cistite.

Já o prémio de investigação clínica foi atribuído à investigação encabeçada por Luís Azevedo, que se debruçou sobre o problema da dor crónica e sobre os serviços de saúde utilizados para tratar a condição.

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Botox alivia dor a animais com cistite

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A investigação do grupo de Ana Coelho (composto por Raquel Oliveira, Ornella Rossetto, Francisco Cruz, Célia Duarte Cruz e António Avelino, da FMUP e do Instituto de Biologia Molecular e Celular) começou durante o seu doutoramento, focando-se na incontinência urinária. “Escolhemos esta [patologia] porque se caracteriza por uma forte dor na zona pélvica; nós queríamos abordar a diminuição dessa dor”, explicou Ana ao P3. 

Ana tem 28 anos e, após uma licenciatura e mestrado em Biologia na Faculdade de Ciências da Universidade do Porto, escolheu um doutoramento em Neurociências. Grande parte do seu trabalho de investigação neste momento concentra-se nas patologias do trato urinário. No trabalho vencedor, o enfoque foi dado à cistite.

A cistite trata-se de uma inflamação que ocorre na bexiga, cujos sintomas são similares aos manifestados durante uma infecção urinária (uma doença distinta), nomeadamente uma forte dor na zona pélvica e um aumento da necessidade de urinar. Afecta maioritariamente mulheres, em qualquer idade, embora os homens também possam ser afectados.

Para esta investigação foram utilizados ratos com cistite. Os investigadores aplicaram toxina botulínica do tipo A (também conhecida como botox) directamente na medula dos animais. Este processo de ministração foi semelhante ao de um exame epidural. Os investigadores observaram um alívio da dor bem como uma melhoria do funcionamento da bexiga dos animais que receberam o tratamento.

Dor crónica em Portugal

Luís Azevedo, 32 anos, médico e investigador na FMUP, lidera o outro grupo vencedor dos Prémios Grünenthal Dor, neste caso o galardão destinado à investigação clínica. O grupo é composto por Altamiro da Costa Pereira, Liliane Mendonça, Cláudia Camila Dias e José Manuel Castro Lopes, também da FMUP. Luís explicou ao P3 que o trabalho permitiu a investigação da frequência da dor crónica em Portugal, assim como a utilização dos serviços de saúde para tratar o problema. 

O seu grupo debruçou-se sobre uma amostra que fosse representativa da população adulta. Foram analisados 5094 indivíduos, cujas respostas aos questionários permitiram medir a frequência da dor crónica portuguesa. De entre a amostra populacional recolhida, 50% dos indivíduos abordados sofria da patologia há cerca de 10 anos.

Este estudo também permitiu observar que os serviços de saúde que são mais procurados por parte dos pacientes consistiam em consultas clínicas, prescrição de medicamentos e testes diagnósticos. Entre os menos utilizados estavam os métodos de tratamento não-farmacológicos (tais como fisioterapia, massagens, terapia de calor ou frio, medicina alternativa etc.).

O cientista vencedor também afirmou que em 20% das situações analisadas os pacientes não estavam a receber o tratamento adequado. E considera que “há ainda espaço para melhorar o tratamento que é feito”. 

As candidaturas para o Prémio Grünenthal Dor 2014 já estão abertas. 

Texto editado por Andréia Azevedo Soares