A Sexta de Bicicleta de Jorge Mourinho

Em Portimão, onde vive, Jorge Mourinho anda de bicicleta diariamente. O co-fundador de um serviço de estafetas naquela cidade algarvia começou a usar a bicla como meio de transporte regular quando ficou desempregado

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Valter Guerreiro

Jorge Mourinho, 33 anos, vive em Portimão. Trabalha como livreiro num centro comercial da cidade, é co-fundador do serviço de estafetas em bicicleta BikePostal e “blogger” no Portimão Cycle Chic. Foi depois de uma visita à cidade de Sevilha que começou a questionar o “comodismo de usar o carro como único meio de transporte”. Jorge lembra-se da reacção que teve ao ver ciclovias espalhadas por toda a cidade e pessoas vestidas formalmente (até de fato e gravata) a deslocarem-se de bicicleta. Mas o que acabou por fazê-lo pegar na bicicleta foi uma situação de desemprego. Decidiu que não ia ficar limitado por não ter condições de manter um carro e ganhou coragem.

De que formas usas a bicicleta à sexta-feira?

Num dia normal uso para um passeio matinal junto à praia e para me deslocar para o trabalho. Felizmente, no meu local de trabalho, consigo guardar a bicicleta.

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Que tipo de bicicleta usas?

Uso duas. Uma bicicleta tipicamente holandesa que, por sorte, encontrei numa loja de segunda-mão. E uma antiga de ciclismo que um amigo restaurou e transformou numa "single speed".

O que muda na tua vida nas sextas-feiras em que levas a bicicleta contigo?

Na minha vida, mudaram as sextas e todos os outros dias da semana. Não uso carro — e não é verdade que nos limita. Muito pelo contrário, dá-nos liberdade e ficamos com muito mais dinheiro ao fim do mês.

Existem alguns mitos sobre a utilização da bicicleta que tenhas vencido?

Sim, dois em particular. O da meteorologia e o das subidas que, de início, chamamos íngremes mas que à medida que vamos pedalando parece que o grau de inclinação vai diminuindo. Normalmente, muitas pessoas queixam-se de que não andam porque faz muito calor e transpiram ou porque está a chover e chegam encharcadas ao local de trabalho. Nestas situações, eu gosto muito de uma frase usada em alguns países do norte da Europa: "O tempo não está mau, nós é que estamos mal vestidos para o tempo que está". Pedalar até ao local de trabalho, dependendo das condições meteorológicas, resolve-se facilmente com uma boa mochila, uma muda de roupa e não é preciso tanta força de vontade quanto se pensa. Em relação às subidas, é verdade que de início custa. Mas ao fim de algum tempo vão ver como já as tentam subir por desafio.

O que poderia melhorar nos percursos que realizas?

Principalmente gostaria de ver mais pontos de parqueamento na cidade. Tenho de reconhecer que houve um esforço recente por parte da autarquia na colocação de suportes para bicicletas, mas sinto a necessidade de haver mais. Penso também que um dos motivos que leva as pessoas a não usarem as bicicletas seja o facto da segurança.

Um momento em que te sentes mesmo bem a andar de bicicleta.

Há uma avenida no centro da cidade de Sevilha em que adoro pedalar, especialmente à noite. Durante o dia, o trânsito é caótico. Mas de noite a avenida ganha uma calma e um silêncio que me tranquiliza bastante. Era como uma terapia de final de dia e é um momento que ainda hoje me faz sentir saudades do tempo que vivi naquela cidade.

O que tens a dizer a quem diz que andar de bicicleta na tua cidade é impossível?

Que venham participar connosco nos passeios nocturnos que realizamos todas as quartas-feiras — e nós mostramos o contrário.

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