A Sexta de Bicicleta de Cátia Fonseca

Alfacinha de gema, Cátia Fonseca também tinha mitos em torno da bicicleta bem interiorizados. Entretanto ganhou coragem, começou a pedalar e agora até costura acessórios para bicicleta

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Cátia Fonseca, 30 anos, afirma-se alfacinha de gema. Mora em Campolide e partilha a casa com o seu companheiro, três gatos e quatro bicicletas. Trabalha como assistente administrativa numa empresa de seguros de viagem e serviços de assistência no Campo Grande. Diz que, como a maioria das pessoas, tinha todos os mitos em torno da bicicleta bem interiorizados: a chuva, o medo dos carros, as subidas, os assaltos. Até que, há poucos meses, ganhou coragem e começou a pedalar contra todos esses mitos. Mais recentemente, Cátia pegou numa máquina de costura a ganhar pó há anos e começou a experimentar fabricar algumas ideias de acessórios para a bicicleta que vai tendo. Nasceu assim a Costureira Ciclista.

O que te levou a começares a usar a bicicleta para te deslocares?

A imprevisibilidade e o caos do trânsito em Lisboa. Bom... talvez o facto de me perder sempre que tentava ir a algum lado também tenha dado um empurrãozinho. A verdade é que considero que usar a bicicleta como meio de transporte é muito mais prático e simples (sobretudo agora em que já é possível levá-la no metropolitano de Lisboa sem restrições de horário) do que o automóvel. Para além disso, é inegável que, ao selim da nossa bicicleta somos muito mais autónomos e aventureiros. A preocupação com o trânsito e com as filas simplesmente desaparece e, ao final de um dia de trabalho, podemos simplesmente optar por apanhar um caminho diferente, passar pela mercearia ou, ir beber um café numa esplanada sem aquela sensação de ânsia antecipada ao pensar nas filas intermináveis de carro.

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De que forma usas a bicicleta à sexta-feira?

Se estiver de folga, o mais provável é aproveitar para ir dar um passeio ou, se for a última sexta do mês, juntar-me à Massa Crítica. Numa sexta normal, no entanto, uso-a para ir para o emprego e à escola de costura que fica na Alameda. Devido à iniciativa Sexta de Bicicleta, que tem conseguido trazer muita gente para a rua, a principal mudança é o facto de existirem muitos mais ciclistas a circular pela cidade.

Alguns mitos sobre a utilização da bicicleta que tenhas vencido?

Existem tantos mitos em torno da utilização da bicicleta que descobri serem infundados, que se torna difícil escolher e tenho até tentado desmistificar alguns deles no blogue da Costureira Ciclista. Mas, escolhendo apenas um, diria: o mito de que andar de bicicleta na estrada é extremamente perigoso. Não é. Naturalmente que há situações e locais perigosos, mas isso, por si só, não faz com que seja impossível andar de bicicleta na estrada. Há muitos mais acidentes que envolvem automóveis e nunca ouvimos ninguém dizer "Vais de carro?! Olha que isso é muito perigoso!".

O que poderia melhorar nos percursos que realizas?

Uma das principais melhorias passaria, essencialmente, pelo desenvolvimento de acções de sensibilização e informação, dirigidas a automobilistas e peões, que tivessem como objectivo fomentar a mudança de atitude em relação aos ciclistas. Claro que a construção das ciclovias e as recentes alterações ao Código da Estrada são bastante positivas mas, como referia o Projecto Pedal, nós ciclistas sabemos não constituir ameaça aos automobilistas nem ao seu estilo de vida mas... será que eles o sabem?

Uma pessoa da praça pública que gostarias de ver a andar de bicicleta e porquê?

A Administração do Metro de Lisboa. Creio que seria importante que, tal como muitos ciclistas, tentassem fazer um percurso que combinasse a bicicleta com a utilização do metro. Creio que seria uma boa forma de sensibilizar a Administração para o facto de que a interdição do transporte das bicicletas nos elevadores, escadas e tapetes rolantes coloca em causa a mobilidade de quem opta por combinar os dois meios de transporte e, em casos como a estação da Baixa-Chiado, levanta uma barreira praticamente intransponível. A não ser que optemos por transpor esta regra…

O que tens a dizer a quem diz que andar de bicicleta na tua cidade é impossível?

Diz-me quanto estás livre. Se não tiveres bicicleta, eu empresto-te uma. Encontramo-nos na Praça do Comércio e vamos dar uma volta. Se chegarmos à conclusão de que andar de bicicleta na cidade não é, afinal, impossível, pagas o almoço. Aceitas o desafio?

Um momento em que te sentes mesmo bem a andar de bicicleta.

Sempre que alguém me cumprimenta quando passo de bicicleta, seja essa pessoa ciclista, ou peão. Como faço o mesmo percurso todos os dias, há pessoas que já se habituaram à minha presença. Uns acenam, outros cumprimentam, há quem me diga que “já falta pouco” e até um taxista que, em tom de brincadeira, me alerta para o facto de eu ir “com as duas rodas no chão” (caí à primeira). São pequenas coisas, mas que fazem toda a diferença e me deixam com o sorriso de orelha a orelha.

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