Autárquicas: abstenção foi maior onde há mais emprego jovem

As explicações da abstenção, além de complexas, são também multidimensionais. Alheamento, apatia política, oposição, desilusão e protesto são as mais notadas

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Os 10 concelhos com mais abstenção nas eleições do passado domingo estão no litoral José Sarmento Marques

Almada, Seixal, Palmela, Setúbal, Moita, Montijo e Sesimbra. Sete dos concelhos onde se registaram as maiores taxas de abstenção do país pertencem ao distrito de Setúbal, onde a abstenção se fixou nos 68,93%. Uma taxa de abstenção distrital que atinge mais 12,3% em relação às autárquicas de 2009 e mais 14,83% relativamente à média nacional, que atingiu o nível histórico de 47,4%.

Juntam-se à lista dos dez concelhos com mais abstenção Oeiras e Cascais, do distrito de Lisboa, e Ílhavo, de Aveiro. Os 10 concelhos onde se registou mais abstenção — acima ou muito próximo dos 60% — ficam todos, sem excepção, no litoral.

De acordo com Paula Espírito Santo, professora do Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas (ISCSP), a taxa de pessoas que abdicam do seu direito de voto pode ser explicada por diversas variáveis, sendo uma delas a idade. Se relacionarmos a idade com a localização geográfica e geoestratégica destes 10 concelhos "podemos assumir que são concelhos com um maior dinamismo em termos de oferta de emprego" e consequentemente concelhos com uma população activa mais jovem.

Voto não é valorizado como direito

Ora, é aos mais jovens que se associa um "maior distanciamento político e eleitoral". O facto de não terem experienciado um regime com liberdades e direitos limitados, como o Estado Novo de Oliveira Salazar e Marcello Caetano, pode contribuir para que não "valorizem o voto como um direito". Ao contrário da população mais velha que, por motivos de ordem histórica, tem uma relação diferenciada com o voto. "Os jovens votam menos, em regra, porque desconhecem a oferta eleitoral e como tal não podem votar sobre o que/quem desconhecem", esclarece Paula Espírito Santo.

Torna-se pertinente voltar a olhar para a taxa de abstenção sob o ponto de vista da variável idade quando verificamos que, em nove dos 10 concelhos que registaram a maior taxa de abstenção, o número de eleitores recenseados aumentou em relação às autárquicas de 2009. De facto, à excepção de Palmela, onde o número de recenseados diminuiu em cerca de 8,8 mil, houve nos restantes concelhos um aumento simultâneo da população eleitoral e da renúncia ao voto, o que "deriva, essencialmente, de o eleitorado jovem se encontrar menos próximo da política e do voto por motivos de pouca identificação, desinteresse e alheamento políticos".

As explicações da abstenção, além de complexas, são também multidimensionais. Alheamento, apatia política, oposição, desilusão e protesto são as mais notadas.

Distrito vermelho

A coligação liderada pelo PCP ganhou em 11 dos 13 concelhos do distrito de Setúbal. Perdeu Sines e o Montijo para o PS. Ainda que neste último concelho a CDU não tenha ficado muito atrás do PS que elegeu o presidente Nuno Canta com uma margem mínima, apenas 2,57%.

Foi no Montijo que a CDU, contrariando a tendência verificada nos outros concelhos, onde a abstenção também ficou próxima ou acima dos 60%, conseguiu aumentar significativamente o número de votos: 3,3 mil.

Este caso mostra que a CDU perde votos em Palmela, Setúbal, Sesimbra, Seixal, Almada e Moita, concelhos em que elege o presidente de câmara, e ganha votos num dos únicos dois concelhos que não lidera na Margem Sul.

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