É quase isso: pergunta ao FMI

O FMI é um amigo que nos dá atenção. Está sempre presente. Não, não é desde 2011, quando pedimos ajuda financeira. É desde 1977. Eu gosto do FMI, porque é uma espécie de “tio da França” que nos dá 50 euros para um gelado

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flavioricci/Flickr

O FMI é um amigo que nos dá atenção. Está sempre presente. Não, não é desde 2011, quando pedimos ajuda financeira. É desde 1977. Eu gosto do FMI, porque é uma espécie de “tio da França” que nos dá 50 euros para um gelado. Se, depois, estragamos os dentes, com os gelados, e precisamos de dinheiro para o dentista, voltamos a pedir ao tio. Por isso é que muitos críticos acusam o FMI de ser um tio a quem damos uma mesada.

 

Eu não sei se temos uma relação desse género. Não estudei economia.

 

Pensando bem, talvez soubesse o mesmo, se tivesse estudado. Mas proponho um plano: se o tio está a envelhecer, podemos começar a pagar a mesada em caramelos. Só para ele ficar com a dentadura a colar.

 

Há muita gente que não gosta do "tio" FMI. Há quem diga que devemos tentar negociar com os seus representantes. Até acho boa ideia, mas há dois problemas: quando eles negoceiam presencialmente, escondem uma pistola debaixo da mesa; quando negoceiam pelo Skype, desligam-nos o microfone. Resolvidos esses dois problemas, talvez consigamos juros negativos. E uns trocos para gelados.

 

A minha característica do FMI preferida é a constância das declarações dos seus membros. “O plano de ajustamento para Portugal é bom.” “Subestimámos o efeito da austeridade, no plano português.” “A austeridade é para continuar.” “Austeridade em demasia pode ser nociva.” “A austeridade é para continuar.”

 

A lógica consiste, mais coisa, menos coisa, em continuar a austeridade, independentemente do que seja dito. É como na pornografia: qualquer que seja o cenário ou o diálogo, acaba tudo da mesma maneira.

 

Por outras palavras, o FMI é como o Internet Explorer: demora demasiado tempo a dizer que não funciona.

 

Há quem ache que esta organização internacional seja uma espécie de mercado, onde os países podem comprar umas couves ou um frango. Acrescento uma diferença: as vendedoras dos mercados costumam dizer palavrões, mas tratam-nos bem; os funcionários do FMI falam muito bem, mas tratam-nos mal. Não é à toa que Paulo Portas gosta das vendedoras, mas não gosta do FMI. Devemos sempre confiar nos gostos de um político com nove vidas.

 

Os economistas do fundo monetário fazem previsões de toda a ordem: o crecimento, a confiança, o endividamento ou o resultado do Sheffield Wednesday-Doncaster Rovers, da 2.ª divisão inglesa. São como os meteorologistas. Embora estes acreditem no que dizem.

 

Depois de uma aturada investigação, ou apenas com recurso a um lamentável processo de especulação, conseguimos acesso a declarações de alguns economistas do FMI, proferidas em momentos importantes da História.

 

“O Homem não vai à Lua.” (Julho de 1968)

“O Homem vai à Lua.” (Julho de 1969)

 

“Não vai haver uma crise do petróleo.” (Janeiro de 1973)

“Vai haver uma crise do petróleo.” (Outubro de 1973)

 

“O muro de Berlim não vai ser derrubado.” (1988)

“O muro de Berlim vai ser derrubado.” (1989)

“O muro de Berlim já foi derrubado?!” (1992)

 

“Uma crise financeira provocada por especulação é tão provável como a Grécia vencer um Campeonato da Europa de futebol.” (2004)

 

“Eu sou o Napoleão.” (Economista 55, 2008)

“Eu não sou o Napoleão, sou o Estaline.” (Economista 55, 2010)

“Eu gostava de ser o Jorge Jesus. O Jorge Jesus nunca agrediria um polícia.” (Economista 55, 2012)

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