A cena de arte contemporânea africana ocupou a Gulbenkian

"Ocupações" quer mostrar o que acontece nas ruas de Maputo, como é intervir nas ruas do Mindelo. O que é que as pessoas falam, quais são as questões que os artistas contemporâneos têm? Exposição está na Fundação Calouste Gulbenkian até 26 de Maio

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O verbo é ocupar, os sentidos são muitos, os artistas 22 e o tempo curto. "Ocupações Temporárias - Documentos" é o testemunho de três anos de um segmento do programa Próximo Futuro que levou artistas a "ocupar" espaços públicos, primeiro em Maputo (2010, 11 e 12), depois no Mindelo (2013). Desde ontem, a sala de exposições temporárias da Fundação Calouste Gulbenkian está "ocupada" por jovens artistas moçambicanos, cabo-verdianos e um angolano (Paulo Kapela) — nas paredes, o primeiro graffito no interior do edifício da Gulbenkian e até o passaporte do ministro da Cultura de Cabo Verde dentro de um quadro. A itinerância do projecto "Ocupações" vai continuar, depois de estacionar brevemente em Lisboa, e a próxima paragem deve mesmo ser Angola.

As "Ocupações em Maputo", entre 2010 e 2012 (temas anuais: património arquitectónico, segurança e cidadania e, depois, estrangeiros), e a presença em Cabo Verde em Março deste ano chegam em versão diferida e propositadamente documental — as que aconteceram em África, as originais, estiveram na rua, nas embaixadas, nos aeroportos, e eram barracões, retroprojecções de fotografia, murais, pinturas ou esculturas. Foram até, numa expressão agora revestida de actualidade pelo facto de o seu autor ter assinado uma "Música de Intervenção Rápida" contra uma carga policial em Maputo, um perfil de Facebook de cartão feito pelo rapper moçambicano Azagaia.

Ocuparam espaços públicos, verbo aqui ao serviço da arte mas cuja polissemia social é incontornavelmente actual. Há "uma dimensão política subjacente" às Ocupações, reconhece António Pinto Ribeiro, coordenador do programa Próximo Futuro, mesmo se o seu nome de baptismo é prévio ao movimento que, em 2011, se tornou uma de muitas expressões da contestação contra a desigualdade mundo fora — o Occupy. Mas eles, os artistas, sentiram-se um pouco parte disso e "sentiram que era a sua forma de fazer um Occupy, definem-se como ocupantes. Gerou-se aliás um sentimento de pertença em que os da primeira edição iam às reuniões da segunda controlar se eles eram ocupantes dignos", conta Elisa Santos, curadora da exposição e impulsionadora, como activista cultural com forte ligação a Moçambique, destas "Ocupações" com António Pinto Ribeiro.

Aliás, acrescenta ainda o comissário e programador, a reacção às obras das Ocupações nas ruas "era uma manifestação - havia dezenas e dezenas de pessoas que se iam juntando porque aquilo de repente tinha um carácter de um fenómeno de contornos políticos vagos", provocando debate e alguns embates com as autoridades.

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