Não estudam nem trabalham. O que fazem estes jovens? O Caso do Mário (I)

Pagam-me 440 euros de subsídio de desemprego, porque o meu patrão só declarava o ordenado mínimo. É deprimente ir ao centro de emprego

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Mário Cardoso, 27 anos Adelaide Carneiro

Um estudo publicado esta semana por uma agência da União Europeia estima em 14 milhões o número de jovens europeus com idades entre os 15 e os 29 anos que estão fora do sistema de ensino e sem lugar no mercado laboral.

Em Portugal serão 260 mil, um máximo histórico que a crise económica e a erosão do emprego só tendem a agravar. Geração perdida? Há quem se recuse a deixar de acreditar. 

Mário não acede à formação por ser licenciado 

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Sei que tenho valor e capacidade, diz Mário Adelaide Carneiro

Durante seis anos, a minha rotina era levantar-me às sete da manhã, trabalhar até às oito da noite, ir a casa jantar e tomar banho e depois ir para as aulas. Licenciei-me em Design Grá?co, numa universidade privada, no último ano cheguei a pedir um empréstimo bancário para conseguir pagar as propinas que eram de 3500 euros por ano. Mas trabalhava, ganhava 650 euros, e consegui pagar o empréstimo todo.´ 

O meu posto de trabalho foi extinto no início de Janeiro. Era responsável de departamento numa fábrica de brindes publicitários, mas fui despedido com vários colegas. Nos primeiros dois meses, foi a depressão total: deitava-me às três ou quatro da manhã, ?cava a ver televisão, e depois levantava-me às duas da tarde e não fazia nada. Depois, inscrevi-me na natação às dez da manhã para me obrigar a sair de casa. Entretanto, pus-me a pensar na vida, na idade, no futuro e percebi que tinha que começar a procurar uma solução no fundo do buraco. 

Pagam-me 440 euros de subsídio de desemprego, porque o meu patrão só declarava o ordenado mínimo. É deprimente ir ao centro de emprego.

São ?las enormes de pessoas a lamentarem-se. Dantes, quando já tinha acabado o curso e estava à procura de trabalho na minha área, viam-se as paredes cheias de propostas de emprego.

Agora, se se vir um papel é para o estrangeiro e a ganhar 1500 euros. O que é que se faz com 1500 euros nos Estados Unidos?

Sei que tenho valor e capacidade, mas se for para limpar casas de banho pre?ro fazê-lo em Portugal. Ainda não perdi a esperança de criar um negócio próprio, na área da restauração.

Como tenho o dinheiro que ganhei quando vendi o meu carro, às vezes vou espreitando as imobiliárias para ter a noção de como anda o aluguer de espaços.


Não faço nada porque não consigo aceder à formação dos centros de emprego. Se me aparecesse um trabalho como serralheiro, não me importava nada de receber formação e de trabalhar nessa área, mas dizem-me sempre que, como sou licenciado, não tenho direito à formação. Será que eu, por ter andado tantos anos a esforçar-me para tirar o curso, não tenho os mesmos direitos de alguém com o 9.º ano? 


A minha mãe também ?cou desempregada e ?ca em casa enterrada na depressão. Procuro fugir, tomar café com amigos, trocar umas ideias. Desisti de ver notícias, para não me deprimir. Já sei que tenho que pagar, seja como for... 

Textos escritos na primeira pessoa a partir de entrevistas de Natália Faria

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