“Um Eléctrico Chamado Desejo” (“A Streetcar Named Desire”), de Elia Kazan (1951)

“Um Eléctrico Chamado Desejo”, “Gata em Telhado de Zinco Quente” e “Bruscamente no Verão Passado”. Três grandes peças de Tennessee Williams, a seu tempo transformadas em três grandes filmes

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“Um Eléctrico Chamado Desejo”, “Gata em Telhado de Zinco Quente” e “Bruscamente no Verão Passado” são três grandes peças de teatro de Tennessee Williams, a seu tempo transformadas em três grandes filmes, cada um com o seu realizador (Elia Kazan, Richard Brooks e Joseph L. Mankiewicz, respectivamente), mas todos eles partilhando a qualidade de serem estudos particulares sobre o desespero humano.

Desencadeado por uma morte trágica que impede, de então em diante, a existência de paz de espírito e de relações humanas relevantes, o desespero confunde-se, a determinado momento, com uma maldição fatal que assola aquelas personagens centrais, sem esperança de solução.

É assim em “Um Eléctrico Chamado Desejo” com Blanche DuBois (Vivien Leigh), a ex-professora de Inglês que procura refúgio na casa da sua única irmã, casada, na grande cidade de Nova Orleães, nos EUA. Blanche tinha ficado para trás, com os pais, na casa grande de família, no campo, e sucessivamente perdeu os pais por doenças, a casa por dívidas, um pretendente por suicídio, de que ela foi a causa.

Derrotada a ponto da perturbação mental, recolhe à casa da irmã Stella (Kim Hunter), que ela nunca tinha visitado. A casa, porém, revela-se de uma exiguidade e de uma pobreza constrangedoras, a não ser para um casal apaixonado, e um contraste demasiado penoso relativamente a um fausto anacrónico que Blanche encena, com a ajuda dos adereços que transporta com ela em malas de porão, salvados dos tempos em que era filha dos donos de uma plantação. A vulgaridade e a grosseria do cunhado, Stanley (Marlon Brando), e a falta de privacidade dos aposentos perante um grupo de amigos dele maratonistas do “poker” fazem saltar para a luz outras facetas da personalidade retorcida de Blanche, que se entretém a representar a personagem de falsa inocente, enquanto a razão se vai degradando e estreitando, em íntima relação com o cenário.

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Impressionante interpretação de Vivien Leigh, grande estrela na época, ou não tivesse sido a grande Scarlett O’Hara de “E Tudo o Vento Levou” e, depois disso, Lady Hamilton, Cleópatra e Anna Karenina, se bem que depois de Scarlett O’Hara não houvesse muito mais a fazer. Veja-se a cena em que, sozinha em casa, manda entrar um jovem que vem fazer um peditório e com ele tem uma conversa que o desconcerta, misto de evocação e delírio. Interpretação marcante de Marlon Brando, que tem o seu momento mais simbólico na força com que, com as mãos na cabeça, grita a chamar a mulher, que tinha fugido dele para o andar da vizinha de cima: “Stella! Hey, Stella!”.

No papel de Stella, Kim Hunter (“A Matter of Life and Death”) brilha igualmente. Karl Malden, nem sempre devidamente apreciado, mas um actor chamado frequentemente por Elia Kazan (tal como vimos em “Há Lodo no Cais”/”On the Waterfront”, de 1954), mostra bem, ainda que brevemente, aquilo que sabe fazer. Três dos quatro receberam Óscares por este filme (Marlon Brando foi ignorado). Quanto a Elia Kazan, já tinha feito, por esta altura, coisas como “A Tree Grows in Brooklin”, “Boomerang”, “Gentleman’s Agreement”, “Panic in the Streets” e não se tinha saído nada mal. Queiram confirmar.

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