Região Autónoma da Ficção

Continuamos no rumo da fraude nas expetativas. Não se encontrava representado no cenário até então a invocação patriótica, nem sequer uma intenção de o fazer

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gocyclones/ Flickr

As candidaturas ao Ensino Superior surgem este ano com uma novidade. Mantém-se a descrição da instituição de ensino, as provas de ingresso necessárias à discricionariedade e o patamar olímpico das vagas e classificações dos últimos colocados dos antecedentes anos — ou então para mostrar o curso a optar dada a classificação que se obtém —, muitas contas se fazem nesta altura. Mas no final surge uma novidade, o número de diplomados inscritos no centro de emprego em relação ao total de diplomados (alega o site da DGES que retrata, na tabela apresentada, os dados entre 2001 e 2010).

 

Curiosamente estes dados reflectem os diplomados bolonheses, esquecendo aqueles que antes de 2006/2007 finalizaram o mesmo (?!) curso. Uma nota de rodapé dá conta disso mesmo, mas então o que significa este quadro? O que se pretende com esta informação? Uma orientação de escolha? Um chamamento patriótico da nação? Que região de oportunidades é representada neste cenário?

 

No caso da Universidade do Porto ainda é mais caricato. Cursos como biologia apresentam 1% de desempregados. Fantástico. Curiosamente a análise real (Relatório U.Porto) mostra uma taxa 5 vezes superior. Arquitectura, 3 vezes superior. Ciências do Desporto, 3 vezes superior. Economia, metade da taxa referida (!), entre muitos outros. Isto para indivíduos que aos olhos do mercado de trabalho concorrem com a mesma (?!) competência, os licenciados e os bolonheses.

 

Seria já de si lamentável induzir a opção de escolha em mestrados integrados pela taxa de empregabilidade, pois esta não nos diz nada senão que o modelo educativo no Ensino Superior não preconiza um verdadeiro 1º ciclo de estudos, mas como se não bastasse, o cenário é de falsas realidades. 

 

Continuamos no rumo da fraude nas expetativas. Não se encontrava representado no cenário até então a invocação patriótica, nem sequer uma intenção de o fazer. Agora inovamos, não só não dizemos onde precisamos deles, como temos ali uma informação qualquer inútil de um aparente novo país, de um mundo em que a reforma de Bolonha foi tão benigna que promoveu a arte do ilusionismo na extinção de anos curriculares e, mais recentemente, nas taxas de desemprego. É obra. Fantástico. Gostava de saber onde fica este país que a DGES patrocina, parece ser um favorável destino de oportunidades para licenciados, um bom sítio para emigrar.

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