Tintin já ia ao cinema antes de Steven Spielberg

Adaptações decepcionantes, a um passo do falhanço

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O cinema “descobre” Tintin no final da década de 50, quando este já era um êxito editorial DR

A marca do cinema nas primeiras aventuras de Tintin é evidente, ou não fosse essa uma das referências iniciais de Hergé. Mas as quatro longas-metragens realizadas nos anos 1960-70, com actores de carne e osso ou na animação, foram decepcionantes, ficando a anos-luz das bandas desenhadas em que se inspiraram.

As primeiras tentativas de levar Tintin ao grande ecrã são meras curiosidades. A partir de 1946, a empresa parisiense Les Beaux Films realizou diversos filmes a partir de um encadeamento de diapositivos.

No ano seguinte, o cineasta Claude Misonne realizou uma longa-metragem em que adaptava "Le Crabe aux Pinces d’Or" ("O Caranguejo das Tenazes de Ouro"). As personagens eram representadas por bonecas, animadas imagem a imagem.

No cinema, depois dos livros

No final dos anos 1950, o cinema “descobre” Tintin, que já era então um êxito editorial. A exploração do tema vai ser feita em duas direcções distintas. A primeira recorre a actores reais: "Tintin et le Mystère de la Toison d’Or" (1960), realizado por André Barret e Jean-Jacques Vierne, tem como protagonista Jean-Pierre Talbot, “descoberto” acidentalmente na praia de Ostende por uma amiga de Hergé. O capitão Haddock é interpretado por Georges Wilson.

A segunda longa-metragem, rodada em Espanha em 1964, é "Tintin et les Oranges Bleues", dirigida por Philippe Condroyer a partir de um argumento de André Barret. Talbot é agora um Tintin um pouco mais adulto, enquanto Haddock é incarnado por Jean Bouise. Depois de algumas experiências no cinema de animação, a empresa bruxelense Belvision realiza em 1969 a história "Le Temple du Soleil" ("O Tempo do Sol"). Greg, o criador de Achille Talon, tem um papel importante na adaptação.

Três anos mais tarde, surge "Le Lac aux Requins" ("Tintin e o Lago dos Tubarões"), desta vez a partir de uma ideia original de Greg. Do filme sairá, aliás, uma banda desenhada constituída pelas sequências da longa-metragem, e que nada tem a ver com o universo gráfico da série. Benoît Peeters, especialista na obra de Hergé, é de opinião que estas adaptações são “uma decepção” e só não se pode falar em fracasso porque permitiram “a um novo público descobrir o universo de Hergé”, escreve no livro Le Monde d’Hergé (Casterman, 1990).

As razões que explicam o sucedido são de duas ordens: circunstanciais, “ligadas nomeadamente à relativa falta de meios” ou “mais fundamentais”, associadas ao desenho de Hergé, que oscila entre “o realismo extremo” dos cenários e a “caricatura” das personagens, com os dois elementos a serem “unificados pelo traço sempre igual que caracteriza Hergé”.

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