“A Família Miniver” (“Mrs. Miniver”), de William Wyler (1942)

Mantém-se apenas constante a visão de humanidade em cada situação, em cada relacionamento abordado

Poster de Mrs. Miniver DR
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Este filme de pequenas coisas leva o seu tempo, mas chega às grandes. Começa em Londres – uma Londres recriada nos estúdios da MGM, na Califórnia, tal como os restantes cenários que apresenta – um pouco antes do início da Segunda Guerra Mundial, com uma mulher (Greer Garson) determinada em comprar um chapéu, o que faz rapidamente, antes que o arrependimento a leve a mudar de ideias.

Depois, sendo Inglaterra, embarca num comboio que a deixa (a ela e a nós) na aldeia de Belham, com pontualidade e sem vestígios de prejuízos colossais. Essa mulher é Mrs. Miniver, que tem agora um problema para resolver: como e quando contar a extravagância ao marido (Walter Pidgeon), que, por sua vez, tem outro problema: como contar à esposa que comprou um carro descapotável.

A família a que alude o título português é constituída pelo pai, Clem, e pela mãe, Kay Miniver, dois filhos pequenos e um outro, Vin (Richard Ney), que eles vão esperar à estação, após um ano de ausência na Universidade de Oxford, de onde chega com novidades que surpreendem os pais, tais como um cachimbo e várias ideias para mudar o mundo.

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A família a que alude o título português é constituída pelo pai, Clem, e pela mãe, Kay Miniver, e três filhos DR

Em Belham, sendo Inglaterra, o chefe da estação de caminhos-de-ferro (Henry Travers, o famoso anjo de “Do Céu Caiu uma Estrela”) cultiva rosas e conseguiu mesmo criar uma variedade especial, que tenciona inscrever no concurso que a aristocrata local, Lady Beldon (Dame May Witty), habitualmente patrocina e ganha.

A propósito deste concurso, a neta de Lady Beldon, Carol (Teresa Wright) conhece Vin, de onde resultam mais novidades a que os seus pais terão de habituar-se em pouco tempo, com as trocas de olhares que testemunharemos. A entrada do país em guerra, porém, desmancha toda esta ordem brutalmente, como fazem as guerras (muito mais do que aquilo que é mostrado ou sugerido na tela, como reconheceu o realizador após se ter confrontado com a guerra real).

Mantém-se apenas constante a visão de humanidade em cada situação, em cada relacionamento abordado, com todas as subtilezas que lhes dão sentido e profundidade. E emerge o título original, “Mrs. Miniver”, mais essencial no seu resumo: é ela o esteio, a trave mestra, a chave da interligação, da coesão, da esperança daquela família. Tal como do filme é o seu realizador, William Wyler, que nos deixou, em tantas obras, traços dessa sua celebrada arte de mostrar, muito humanamente, o que o humano tem de simbólico.

Por isso é que em Belham os bombardeamentos não conseguem impedir a celebração da missa nem a expressão, entre ruínas escoradas, de uma homilia que fugiria à ficção de um filme para se imortalizar como “Discurso Wilcoxon” (do nome do actor que interpreta o pároco, Henry Wilcoxon) nas páginas das revistas “Time” e “Look” e na radiodifusão da Voice of America, como inspiração do esforço de guerra dos Aliados.

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