A crise vista pelas associações de estudantes

O P3 falou com os presidentes de três academias universitárias, que temem efeitos dos cortes na qualidade do ensino

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Incerteza na atribuição das bolsas preocupa dirigentes associativos Rui Gaudêncio

"A vida está difícil" é um dos queixumes habituais na mentalidade portuguesa. Se em épocas anteriores já se usava, quanto mais agora. Até é bem possível que se torne chavão pelos corredores das universidades, tendo em conta os cortes orçamentais que o ensino superior sofreu.

Quem por lá anda, e consegue ver as expressões de quem é caloiro ou de quem é veterano na faculdade, diz que - por incrível que pareça - que o entusiasmo continua lá.

"Continua a ser o mesmo. Quer queiramos, quer não, o acesso ao ensino superior é um sonho. Este ano lectivo, se calhar, existem mais preocupações, mas isso todo o país tem", diz Luís Castro, presidente da Associação Académica de Lisboa (AAL).

Eduardo Melo pretende que o Estado dê mais importância às instituições de ensino superior

E as universidades têm uma preocupação enorme, no valor de 95 milhões de euros. Este é o corte orçamental do ensino superior que deixa Luís Castro, Eduardo Melo, da Associação Académica de Coimbra (AAC), e Luís Rebelo, da Federação Académica do Porto (FAP), "bastante assustados".

Luís Castro defende a diminuição de instituições da mesma área de ensino, em Lisboa

O medo que lhes assiste

Luís Rebelo admite a existência de um corte orçamental, desde que não afecte a qualidade de ensino

"Neste ano lectivo já vimos algumas instituições a responderem à redução do orçamento com o aumento de vagas, para angariarem mais fundos através das propinas, mas isso não é acompanhado pelo aumento do número de docentes nem pela melhoria de condições, o que leva a uma diminuição da qualidade de ensino", afirma Eduardo Melo, da AAC.

Essa consequência é, juntamente com a falha na atribuição de bolsas, aquilo que mais preocupa os presidentes das academias. "No início das candidaturas de acesso ao ensino superior, quase um terço dos estudantes pediu apoio para as suas despesas e isso assusta, porque não sabemos as regras do jogo e o jogo já começou", refere Luís Castro.

Vida académica já não é o que era

No entanto, quando não se conhece as regras de um jogo, joga-se com o que se tem. No caso de Luís Rebelo, aquilo que tem são ideias que, se implementadas, poderiam minorar os danos da austeridade.

“Acho que um quadro único de docentes, a nível da universidade, poderia ser vantajoso, com os docentes de matemática da Faculdade de Ciências a leccionarem também matemática na Faculdade de Engenharia, e por aí fora”.

O aperto económico tem sido tão grande para os jovens estudantes, que até a habitual participação nas festas académicas tem vindo a ser sacrificada: “Tem-se notado, nos últimos anos, que existe uma maior consciência de ingressar na universidade para acabar o curso o mais rápido possível e entrar no mercado de trabalho”, revela Luís Castro.

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