Pilotos usam folgas em atraso como pressão sobre a TAP

Pilotos não voaram em dias de folga e férias entre 24 e 28 de Março, provocando cancelamentos, escalas imprevistas e atrasos. Agora, e no meio de negociaçoes salariais, o sindicato defende o uso de folgas em atraso.

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Grupo está prestes a apresentar os resultados de 2017, ano em que terá voltado aos lucros Daniel Rocha

Devido à falta de pilotos, houve passageiros da TAP obrigados a fazer uma escala antes de chegar ao destino, isto quando planeavam um voo directo, houve quem tivesse de esperar pelo próximo voo para chegar ao seu destino, com atraso, e a empresa teve ainda de recorrer ao fretamento de aeronaves para resolver falta de ligações no longo curso.

No primeiro caso, por exemplo, uma passageira queixou-se esta quarta-feira de um voo para Budapeste que tinha sido cancelado por “falta de tripulação”, tendo acabado por lá chegar após “muita insistência” sua e com uma escala em Varsóvia pelo meio. Isto porque os pilotos deixaram de trabalhar para além do que estão vinculados por lei, durante cinco dias - culminando nesta quarta-feira, no âmbito de uma estratégia negocial. A ideia é usarem agora as folgas em atraso como pressão.

 “Os pilotos têm voado nas folgas, férias, em dias fora do planeamento. Neste momento, sentem que a empresa não está a reconhecer o esforço, nomeadamente em termos salariais”, refere uma fonte conhecedora da situação, sinalizando que a situação evidencia “a carência de pessoal” que a empresa atravessa.

Isso torna-se mais visível com o aumento de frequências, sendo que o início da época de Verão no sector é a 26 de Março e traz consigo mais voos, com destaque para os de médio curso.

No dia 15 de Março realizou-se uma assembleia-geral de empresa que reuniu os pilotos da TAP inscritos no Sindicato dos Pilotos da Aviação Civil (SPAC), e onde se votou mandatar a actual direcção “para prosseguir as negociações com a companhia”, ligadas à depreciação salarial e à contratação externa. Por parte do SPAC, e segundo informações recolhidas pelo PÚBLICO, este sindicato já enviou uma proposta de actualização salarial à TAP, que não terá tido boa aceitação.

De acordo com um documento do SPAC enviado aos pilotos, e citado pela Lusa, havia indicações precisas de actuação para esta etapa, onde se incluía “a não aceitação de voos em folga/férias no período de 24 a 28 de Março (inclusive)”. No sábado, dia 24, a RTP começou a dar nota de voos cancelados, no âmbito da estratégia que deverá ser interrompida nesta quinta-feira, aliviando parte do período ligado à Páscoa.

No entanto, há ainda a indicação para os pilotos gozarem folgas em atraso, com o envio por parte do SPAC da respectiva minuta e notas explicativas sobre o regime de folgas, o que poderá manter pressão sobre a transportadora aérea.

Em Agosto de 2016, a TAP assinou com vários sindicatos o primeiro aumento de salários desde 2010, no valor de 0,9%. Por parte do SPAC, este negociou a recuperação das anuidades em falta através de um pagamento faseado.

Tanto a TAP como o SPAC se remeteram ao silêncio sobre estas questões, não sendo possível, por exemplo, quantificar o número de voos e passageiros que já foram afectados até agora - a ANA, que gere os aeroportos, também não forneceu os dados solicitados. Na terça-feira à tarde, a Lusa dava conta de 36 voos cancelados no aeroporto de Lisboa desde as 7 da manhã de segunda-feira. A única coisa que a TAP diz é que “lamenta os cancelamentos” e que “está a actuar para minimizar os impactos junto dos seus passageiros”.

Esta quarta-feira, a Lusa dava conta de que a Deco, associação de defesa dos consumidores, já tinha recebido vários pedidos de informação por parte de pessoas afectadas, embora sem quantificar, com a TAP a garantir que vai indemnizar os passageiros afectados pelos atrasos ou cancelamentos de voos. Ana Sofia Ferreira, jurista da Deco, informou que os passageiros têm direito a indemnização por se tratar de uma questão de "organização da própria empresa em termos de horas de trabalho e em termos de escassez de tripulação", pelo que, defendeu, a situação é "totalmente imputável à empresa".

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