Vender ou não vender a alma ao diabo: militantes unem-se à volta de Rio e desvalorizam ideia de bloco central

“Vale a pena vender a alma ao Diabo para tirar a esquerda do poder.” A frase foi de Manuela Ferreira Leite. E as bases do PSD concordam?

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Congresso decorre até domingo, em Lisboa

Os militantes do PSD parecem já ter perdoado a Rui Rio a ideia de poder vir a viabilizar um Governo minoritário do PS nas legislativas de 2019, caso os socialistas não consigam vencer as eleições com maioria e contam agora com o presidente eleito para construir uma alternativa a António Costa. Antes das eleições, Pedro Santana Lopes carregou nas críticas e tentou encostar Rui Rio à ideia de um novo bloco central. Mas Manuela Ferreira Leite (apoiante do líder eleito) voltou a defender, na TSF, que, “se for preciso, é bom o PSD vender a alma ao diabo” para pôr um ponto final na “geringonça”

No dia da abertura do 37.º Congresso do PSD, o PÚBLICO tentou perceber se os militantes estão ou não disponíveis para vender a alma ao diabo e se são ou não favoráveis a um entendimento entre socialistas e sociais-democratas nas legislativas do próximo ano. Alguns deles mostram-se favoráveis a entendimentos entre os dois partidos.

 “O dr. Rui Rio deu a opinião que bem entendeu na altura própria. Não vejo mal nenhum que ele tenha dito isso, ao contrário de outros companheiros que olham para essas declarações como um drama. Não há drama nenhum, o que interessa é o país, porque o país é que é fundamental e foi nessa perspectiva que disse viabilizaria um Governo minoritário do PS”, declarou o presidente dos TSD (Trabalhadores Sociais-Democratas), Pedro Roque.

Convicto de que Rui Rio fará uma bom mandato como presidente do partido, o líder dos TSD enaltece-lhe algumas qualidades, com a seriedade, e diz que, se o “partido trabalhar, tem condições para vencer as eleições legislativas”. Mas para isso – frisa – “vai ser preciso desmontar uma série de situações que existem e que não estão a ser bem clarificadas perante o povo português”. De resto, Pedro Roque vai mais longe e sublinha que PS e PSD devem entender-se em matérias de regime. “As grandes reformas na área da Justiça, Saúde, Segurança Social, por exemplo, que são importantes para o país, têm de passar por consensos entre os dois partidos”, reforça o presidente dos TSD.

Graciete Castro, militante do PSD, de Anadia, não encontra “mal nenhum” na posição de Rui Rio, até porque – nota - ”é preferível viabilizar um Governo minoritário do PS do que dar, de novo, a oportunidade à esquerda”. “Confio muito no dr. Rui Rio, porque é uma pessoa muito séria e aquilo que promete faz, viu-se isso na Câmara do Porto”, afirma Graciete Castro, que ao longo da campanha participou em vários debates, que lhe reforçaram a boa opinião que tem do ex-autarca, declarando que o líder eleito do partido “dialogará com o PS nas questões que considere importantes para o país, como sejam a Justiça, a Segurança Social, a Saúde”.

E porque o partido saiu de um processo eleitoral, esta militante de Anadia, no distrito de Aveiro, deixa um conselho a Rio: “Primeiro vai ter de unir o partido, que está muito dividido a nível nacional, distrital e concelhio”.

Opinião diferente tem José Marques. Este militante do Sabugal confessa que não gostou de ouvir Rui Rio dizer que estaria disponível para viabilizar um Governo minoritário do PS e defende que o partido deve votar contra o Orçamento do Estado para 2019. Apoiante de Santana, José Marques pede união em torno do PSD, porque “só assim conseguirá ganhar as legislativas”, embora admita que o partido possa “fazer pontes” em relação a alguns temas.

 Angélica Gonçalves é uma militante com sotaque do Norte. Veio de Felgueiras para assistir ao congresso e fala do partido com o coração. Reformada, Angélica Gonçalves desconfia de António Costa a quem reconhece esperteza e diz que Rui Rio devia ter evitado dizer o que disse. “Nós gostávamos que ele não tivesse dito o que disse, porque nós somos do PSD, e ele sabe que não vai conseguir fazer nada porque António Costa não lhe vai dar a oportunidade de apoiar nada”, diz segura dos seus 20 anos de militância.

Apesar de ter apoiado Santana nas directas, a militante de Felgueiras coloca-se ao lado do líder eleito e lança um apelo para que os sociais-democratas se unam e se empenhem numa vitória nas legislativas do próximo ano.

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