Marcelo no novo ciclo: “Eu não mudo” e a leitura da Constituição também não

Presidente recusa voltar a falar sobre as relações com o Governo, mas avisa que é muito determinado e que não vai desistir da floresta como prioridade nacional.

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Marcelo visitou escola nos Açores MIGUEL A.LOPES/LUSA

Foi uma travagem a fundo na escalada de tensões entre Belém e S. Bento, mas com avisos do Presidente para o futuro. Marcelo ouviu o novo ministro da Administração interna, muito próximo do primeiro-ministro, dizer no Parlamento que os portugueses não compreenderiam que houvesse divisões a propósito dos incêndios e concordou em absoluto: “É isso mesmo que tenho dito, tenho apelado a um consenso, a um pacto de regime sobre essa matérias”. Mas deixou avisos para o futuro: “Eu não mudo e a leitura dos poderes constitucionais também não”.

Foi na Ribeira Grande (Açores), no final de uma aula que deu a alunos de uma escola básica, que Marcelo Rebelo de Sousa se recusou falar aos jornalistas sobre o episódio da véspera, relativo aos “choques” do Governo, ou do Presidente, ou do país, na sequência dos incêndios de 15 de Outubro. Mas se o passado está lá atrás, o futuro já começou e o chefe de Estado diz que, na verdade, se trata tudo do mesmo.

“O papel do Presidente é sempre o mesmo, sou Presidente do principio até ao fim do mandato, tenho sempre os mesmos poderes e a mesma leitura da Constituição”, afirmou, quando questionado sobre qual o papel que entendia ter neste novo ciclo. “E tenho a mesma exigência”, insistiu, definindo prioridades: “Primeiro, procurar compromissos nacionais de regime; segundo, que o Governo seja forte e governe e dure a legislatura; terceiro, que a oposição seja forte e constitua uma alternativa, para o caso dos portugueses, no momento das eleições, que decorre ainda durante o mandato presidencial, quererem escolher uma outra solução de governo”. E depois muitos outros pontos que enumerou, como “a 'descrispação' ou a preocupação de concertação social”.

Ou seja, nada mudou em Belém, afirma: “Foi assim, será assim, eu não mudo, eu sou – por detrás de uma aparência de uma pessoa serena e tranquila, que sou –  muito determinado. Não vai haver mudanças”.

O que muda, acabou por reconhecer, são “as circunstâncias complexas do momento”. E estas são as que resultaram do trágico Verão e agora exigem uma “resposta cabal”. Marcelo não se quer fixar na árvores, mas na floresta, porque entende que neste problema está outro mais profundo: as desigualdades territoriai. “Termos vários Portugais a várias velocidades trava o crescimento económico e não realiza a justiça social. Dentro disso, o Presidente está sempre na mesma linha e na mesma orientação”.

Voltemos então ao discurso do Governo no Parlamento. Tal como Eduardo Cabrita expressou, também Marcelo quer união de esforços: “Se for possível haver essa convergência sobre o plano de emergência, sobre a solução que vier a ser adoptada, o mais rápida possível mas devidamente estudada, sobre prevenção e combate e também sobre floresta, isso era muito bom para o país”. O machado de guerra ficou, para já, posto de lado.

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