Passos Coelho lança a dúvida na oposição interna sobre se sai ou fica

Líder do PSD admite derrota e diz que vai fazer "reflexão" sobre a sua liderança

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Passos reconheceu pior resultado de sempre Daniel Rocha

No pacato bairro da Lapa, onde se situa a sede do PSD em Lisboa, o silêncio da noite sem qualquer militante por perto já fazia adivinhar o estrondo que viria a seguir. Foi “um dos piores resultados do PSD de sempre” e um resultado “pesado”, admitiu o líder. Passos Coelho garantia na campanha que não se demitia e não o fez. Mas lançou a dúvida: fará uma reflexão sobre se será candidato a mais um mandato à frente do partido. É até possível que saia mesmo e já não se recandidate, admitiram ao PÚBLICO fontes sociais-democratas. Com esta posição, há também quem admita que Passos Coelho apenas quer ver de que lado ficam os sociais-democratas: do lado da direcção ou de uma provável candidatura de Rui Rio?

Depois de esperar na antecâmara da sala de imprensa que o primeiro-ministro e líder do PS terminasse a declaração de vitória da noite, Passos Coelho começou a sua intervenção por cumprimentar o PS “pela vitória expressiva” que terá atingido em termos globais e reconheceu que o PSD teve “um dos piores resultados de sempre”. “O objectivo não só ficou longe, como o PSD terá tido um resultado pior do que em 2013”, afirmou.

Sozinho no púlpito, o líder do PSD admitiu que houve câmaras que não pensaram perder e que o partido ainda ficou com menos municípios do que em 2013, o que já tinha sido negativo. Como a derrota foi indisfarçável, o líder do PSD anunciou que fará uma “reflexão” sobre as condições da próxima disputa eleitoral interna para “o próximo mandato” com vista a ser candidato às legislativas. Será uma reflexão com a sua “comissão política e outras pessoas, mas também será uma reflexão pessoal”, disse, sem se comprometer com uma data para comunicar a sua decisão. Foi já em resposta aos jornalistas, Passos Coelho admitiu a “hipótese” de não se candidatar à liderança do PSD. Mas disse manter que não se demitia. “Não me demito nem esta noite, nem amanhã nem depois de amanhã. Disse que iria avaliar se politicamente faz sentido candidatar-me a um mandato”, afirmou.

Sem revelar muito o que estará em causa nessa avaliação, Passos Coelho referiu que é necessário aferir “o tempo” que o PSD precisará de “gastar a discutir sua vida interna é uma vantagem ou desvantagem".

O PSD tem marcado um Conselho Nacional de avaliação de resultados já nesta terça-feira. Aí os sociais-democratas terão de assumir uma posição, especialmente os críticos internos e os que já deram sinal de que estão do lado de uma mais do que provável candidatura de Rui Rio. Os dirigentes ‘passistas’ já começaram a dar sinais de apoio. José Matos Correia, presidente do Conselho Estratégico, afirmou à Rádio Renascença que o líder do partido “tem todas as condições” para se candidatar a um novo mandato. Passos Coelho, por seu turno, tinha avisado que o calendário interno se mantém, podendo haver uma semana ou duas de diferença: directas em finais de Janeiro ou princípios de Fevereiro e congresso um mês depois.

Passos Coelho esteve reunido com o núcleo duro do partido durante toda a noite, no edifício principal da sede, enquanto caíam as notícias de maus resultados e do desaire em Lisboa e Porto. Os jornalistas mantiveram-se numa sala anexa praticamente sem contacto directo com os dirigentes. Já passava das 22h30 quando a vice-presidente do partido e candidata a Lisboa, Teresa Leal Coelho, chegou à sede, acompanhada por José Eduardo Martins, candidato à Assembleia Municipal de Lisboa e um dos críticos de Passos Coelho. Passado algum tempo, Leal Coelho veio acompanhá-lo à porta. Na despedida deram um forte abraço.

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