Estratégia, sondagens e debates aumentam tensão pré-autárquica no PSD

Santana Lopes diz que o “debate [na SIC] não correu bem a Teresa Leal Coelho e Feliciano Barreiras Duarte deixa críticas a Passos Coelho por muitas das escolhas, nomeadamente a de Lisboa.

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LUSA/PEDRO SARMENTO COSTA

As eleições autárquicas ainda não aconteceram e já estão a provocar tensão no PSD. O ex-deputado Feliciano Barreiras Duarte, que foi chefe de gabinete de Pedro Passos Coelho, tem uma posição muito crítica relativamente às escolhas da direcção nacional, acusando-a de “não ter conseguido identificar os melhores candidatos “e de se “esquecer de proibir que nas suas listas entrem racistas, xenófobos e populistas”.

“Não vi na escolha do candidato do PSD a Lisboa [Teresa Leal Coelho] e noutras escolhas um fio condutor em relação aos perfis dos candidatos. Nuns casos chegava uma simples indicação da estrutura local, mesmo que tomada por meia dúzia de militantes, e noutros casos as decisões das estruturas locais já não contavam, o que contava era as decisões da estrutura nacional”, diz Feliciano Barreiras Duarte ao PÚBLICO, reafirmando o que escreve num artigo de opinião.

O ex-deputado, que chegou a ser a aposta do PSD para liderar a candidatura à Câmara de Leiria, acabando por ser substituído por Fernando Costa (ex-presidente da Câmara das Caldas da Rainha), trata de responsabilizar Passos Coelho pela escolha de Teresa Leal Coelho para Lisboa. “Estamos todos a aguardar o veredicto dos cidadãos de Lisboa”, afirma com alguma ponta de ironia, declarando que não viu o debate de quarta-feira da SIC com os candidatos à câmara da capital.

Declarando que no dia 1 de Outubro, Passos terá de assumir os resultados das eleições autárquicas, como fizeram outros líderes partidários, o ex-deputado observa que “para ganhar eleições ou para ter mais votos o PSD não pode transgredir com quem defende o estigma dos emigrantes e das minorias étnicas, imitando discursos que, infelizmente, ainda existem em alguns países da Europa”. A alusão é óbvia: André Ventura. O candidato que lidera a lista do PSD à Câmara de Loures tem sido alvo de muitas críticas internas.

Para o ex-chefe de gabinete de Passos, “o PSD não devia ter vacilado e não devia deixar que em seu nome se apresentassem candidatos que diabolizam etnias e que misturam o que não deve ser misturado”.

Feliciano Barreiras Duarte destaca a importância do poder local “para um partido como o PSD” e afasta leituras que visem desvalorizar as eleições autárquicas. “O PSD tem de olhar para o poder local como uma prioridade e não como mais um mero acto eleitoral”, adverte o deputado, que há muito se tem vindo a distanciar do líder do partido.

Representando o lado mais institucional do partido como coordenador autárquico, numa das últimas entrevistas dadas, Carlos Carreiras não sucumbiu a este tipo de críticas e disse que o PSD "tem candidatas e candidatos de primeiríssima linha".

Erros de casting

As recentes declarações de André Ventura à TVI24 suscitaram já uma reacção por parte de Pedro Duarte e José Eduardo Martins, cabeças de lista do PSD às assembleias municipais do Porto e de Lisboa, respectivamente, que dizem que o candidato a Loures já se afastou do programa social-democrata.

"Choca-me que terroristas e pedófilos homicidas sejam executados? Eu digo honestamente: não me choca", disse André Ventura,na televisão. Já antes Ventura havia proferido declarações polémicas sobre minorias, mas o facto de haver um candidato do PSD a defender publicamente a pena de morte, mais do que incómodo, causou embaraço.

 "Apetece-me dizer: É inaceitável", desabafa, ao PÚBLICO, o social-democrata Pedro Duarte, que foi director de campanha de Marcelo Rebelo de Sousa. "Contraria princípios basilares do PSD", sublinha. "Andará muito mal o partido se trocar votos por convicções".

Na mesma lógica, José Eduardo Martins, candidato à Assembleia Municipal de Lisboa, acabou por comentar o tema publicamente na página de Facebook de Nuno Garoupa, quando uma discussão derivou da entrevista de Graça Fonseca ao DN, em que a governante assumia ser homossexual, para a defesa da pena de morte, assumida por André Ventura.

Relativamente à pena de morte, José Eduardo Martins é categórico: "É absolutamente excluída como possibilidade pelo nosso programa. Está na declaração de princípios que todos subscrevemos quando nos tornamos militantes".

A importância dos debates

Ao contrário de Feliciano Barreiras Duarte, Pedro Santana Lopes viu o debate dos candidatos de Lisboa e deixou elogios para a esquerda, em especial para João Ferreira, que lidera a lista do PCP. Quanto a Teresa Leal Coelho, referiu na sua coluna que “o debate não lhe correu bem”.

Num artigo publicado ontem no Correio da Manhã, Santana Lopes escreveu que “o debate, de facto, não correu bem" à candidata. "Pode acontecer a todos. Teresa Leal Coelho não conseguiu demonstrar a sua preparação, era frequentemente interrompida, enfim, não foi bom. Aquilo que se exige à candidata do PSD é que esteja presente no terreno, faça propostas, sistematize mais o seu discurso, defina melhor as suas prioridades”, concretizou.

No Porto, as águas sociais-democratas também andam um pouco agitadas. À boca pequena ouvem-se críticas a Rui Rio por “participar pouco” na campanha ao lado do candidato do partido, Álvaro Almeida. Fontes do PSD responsabilizam Rio por há quatro anos “fazer campanha a favor de Rui Moreira contra Luís Filipe Menezes”. “Esse apoio custou a perda da presidência da Câmara do Porto ao PSD”, acrescentam as mesmas fontes.

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