Alimentação especial recomendada para todos os bombeiros só chega a alguns

Só os bombeiros deslocados das suas regiões para os combates a incêndios recebem kits alimentares especiais se os pedirem. Direcção-Geral de Saúde recomendou que fossem dados a todos os operacionais.

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Os kits estão a chegar aos comandos distritais, sendo esses comandos que os distribuem em caso de necessidade Mario Lopes Pereira

A Autoridade Nacional de Protecção Civil (ANPC) anunciou no dia 21 Julho - já em plena Fase Charlie de combate aos incêndios (a mais grave) - kits para os bombeiros com alimentos especialmente concebidos para o esforço de combate aos incêndios, mas estes estão apenas a ser usados pelos chamados grupos de reforço (operacionais deslocados das suas regiões) que os pedirem.O Ministério da Administração Interna já ordenou à ANPC um inquérito sobre o fornecimento de alimentos a bombeiros.

Os kits foram anunciados no mesmo dia em que foi apresentado um detalhado manual da Direcção-Geral da Saúde (DGS) com recomendações alimentares para os bombeiros que combatem os fogos. Sobre esta alimentação especial, o documento da DGS diz que o kit alimentar “consiste num conjunto de alimentos e bebidas a disponibilizar a todos os bombeiros do dispositivo nacional de combate a fogos florestais”, de modo a assegurar “o aporte energético e nutricional necessário para um período determinado (24h ou 12h).”

Dificuldades na distribuição de refeições

“Estas rações são constituídas por um conjunto de alimentos específicos para o tipo de operações que são desempenhadas nestes contextos, sendo úteis para assegurar as primeiras horas de combate a um incêndio, período no qual se podem verificar dificuldades ao nível da preparação e distribuição de refeições”, diz ainda o documento que detalha o que os bombeiros devem comer em cada refeição.

Em declarações à Lusa nesse dia, uma fonte da ANPC diz também que os kits seriam para distribuir a todos os operacionais. Este ano estão recenseados 66.000 bombeiros.

Essa fonte revela que os kits estão a chegar aos comandos distritais, sendo esses comandos que os distribuem em caso de necessidade, e que foram desenhados para garantir as primeiras 24 horas em caso de necessidade.

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Só que, já a 9 de Agosto, a ANPC apresenta um vídeo sobre os kits em que é afirmado que em parceria com a DGS, “recomenda e distribui um kit alimentar de protecção civil para os grupos de reforço que se deslocam por todo o país”.

“As exigências a que os nossos operacionais são sujeitos quando combatem incêndios rurais são muito superiores às que vivemos nas nossas actividades normais. Preservar a condição física e garantir que os operacionais têm uma alimentação correcta durante as operações é essencial e uma preocupação muito presente para a Protecção Civil”, é dito ainda no vídeo. Nessa altura já havia várias queixas no terreno sobre a falta de qualidade da alimentação.

Ao final da tarde desta terceira-feira, a ANPC emitiu um comunicado em que detalha como é feita a assistência alimentar aos bombeiros. Refere-se aos kits alimentares reafirmando que eles se destinam aos “grupos de reforço” e revela que até ao momento “foram distribuídos 2120, tendo sido já consumidos 176 (8,3% do total distribuído)”.

“Desde o início da Fase Charlie a ANPC dispunha de 800 rações de combate (de 12 horas), tendo passado a dispor de mais 4000 kits” após a compra feita à empresa espanhola”, acrescenta a nota

Liga exige esclarecimentos

Tal como o PÚBLICO noticiou na terça-feira, no dia 18 deste mês, o site bombeiros.pt, o portal dos bombeiros portugueses, revelava que a ANPC “esperou pelo pico do Verão para adquirir os ditos “pacotes individuais com refeições frias para os operacionais”. O contrato consta no Portal Base com data do dia 24 de Junho e através dele a ANPC encomendou à espanhola José Manuel Poveda SA a aquisição de quatro mil kits no valor de 47.480,00 euros.

A ANPC deu um prazo de 30 dias à empresa espanhola para entregar a mercadoria, ou seja, estas refeições já deveriam ter chegado até 24 de Agosto.

O PÚBLICO confirmou que algumas corporações deslocadas de bombeiros receberam os kits, mas a Associação Nacional de Bombeiros Profissionais e a Liga dos Bombeiros Portugueses (LBP) dizem nunca os terem visto no terreno. Ainda nesta segunda-feira, a LBP exigia esclarecimentos sobre os kits "que ainda não chegaram ao terreno".

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