Será que voltamos a crescer mais que a Europa?

Os próximos trimestres dirão se as exportações voltam a acelerar e se o crescimento do investimento consegue manter o ritmo muito elevado do primeiro trimestre.

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Miguel Manso

Comecemos por olhar, cruamente, para os números do crescimento do PIB. O número publicado pelo INE, referente ao primeiro trimestre do ano, deu aso a algumas revisões em alta nas previsões do PIB para o ano de 2017. Olhando para a estimativa do segundo trimestre agora publicada, instala-­se adúvida. Será que o crescimento observado refletia realmente uma alteração sustentável?

Vamos começar por fazer umas contas. A taxa de variação em cadeia trimestral para o PIB no ano passado foi de 0,2% nos dois primeiros trimestres acelerando para 0,9% e 0,7% nos dois últimos trimestres. Para obter o crescimento homólogo destes quatro trimestres, calculamos o crescimento trimestral composto e obtemos um crescimento de 2%.

No primeiro trimestre do ano de 2017, a taxa de variação em cadeia foi de 1%. Para calcular a taxa homóloga deixamos cair o primeiro trimestre do ano de 2016, fraco, substituindo-­o por um trimestre de muito maior crescimento, e passamos a ter um crescimento homólogo de 2,8%. Este valor anual, resulta de termos agora três trimestres de crescimento forte e um de crescimento mais fraco.

A estimativa rápida para o segundo trimestre deste ano é de 0,2%. Substituímos então um trimestre fraco do ano passado, por um trimestre igualmente fraco deste ano e mantemos assim o mesmo valor de crescimento anual. A diferença é que o crescimento do período anterior levava em conta um trimestre fraco no inicio do período. Neste caso, o trimestre fraco é o último observado. Será uma indicação de que os números  continuarão mais fracos para o resto do ano?

Deixando os números para traz, o que fortaleceu o crescimento nos trimestres anteriores e quais os obstáculos à sua sustentação? O crescimento observado assentou em investimento e exportações, o que é positivo. O crescimento das exportações já vem de traz, contribuindo fortemente para o ajustamento externo durante o período da Troika. Parece ter uma base sólida, se bem que neste trimestre o INE refere uma desaceleração. O crescimento do investimento a estes níveis é uma novidade. Esperamos alguma sustentação pelo facto de ter estado deprimido durante tanto tempo que o stock de capital da economia contraiu para valores baixos e tem ainda muito para recuperar. 66,4% deste investimento tem sido financiado com recurso ao autofinanciamento das empresas. Como sabemos, o crédito dos bancos às empresas continua a contrair, indicando uma limitação na sua capacidade de crescimento. Por outro lado, o crescimento do consumo está limitado por taxas de poupança já muito baixas. Os próximos trimestres dirão se as exportações voltam a acelerar e se o crescimento do investimento consegue manter o ritmo muito elevado do primeiro trimestre.

Será este ano que voltamos a crescer mais do que a Europa?

Consultor e economista

 

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