Ambiente marinho sem oxigénio durou um milhão de anos e causou extinção à escala global

Estudo publicado na revista Nature Communications foi desenvolvido nas arribas da península de Peniche e contou com a participação de investigadores da Universidade de Coimbra. O evento terá ocorrido durante o período do Jurássico Inferior

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Peniche possui zonas que são consideradas uma "referência internacional no que respeita ao estudo do Jurássico Inferior" Daniel Rocha

Um novo estudo internacional revela que o fenómeno de um ambiente anóxico (sem oxigénio) marinho e de perturbação do ciclo de dióxido de carbono, durante o período do Jurássico Inferior, terá durado cerca de um milhão de anos e provocado “uma importante extinção marinha à escala global”. Publicado na revista científica Nature Communications, o estudo foi desenvolvido nas arribas calcárias da península de Peniche, que são uma "referência internacional no que respeita ao estudo do Jurássico Inferior", e no furo de sondagem Mochras, no País de Gales, revela a Universidade de Coimbra (UC) em comunicado.

A investigação sobre o fenómeno, "ocorrido há cerca de 182 milhões de anos" e que "provocou uma importante extinção marinha à escala global", contou com a participação de Luís Vítor Duarte, docente e investigador da Faculdade de Ciências e Tecnologia da UC. Liderada pela Universidade de Exeter (Reino Unido), a investigação, "assente no estudo de fragmentos orgânicos de origem continental contidos ao longo da sucessão carbonatada marinha", demonstra que houve "um aumento significativo de materiais carbonosos com indícios de terem sido queimados por incêndios naturais (carvão vegetal), numa posição temporal contemporânea" nos dois locais que foram objecto da pesquisa.

Esses incêndios, "à semelhança da actualidade", só podem ser explicados através da "disponibilidade em oxigénio, sendo essa a prova do final do evento anóxico", sublinha um comunicado da Universidade de Coimbra. Os resultados do estudo mostram que se "está perante um fenómeno de causa/efeito", sustenta Luís Vítor Duarte. "Devido ao aumento da concentração de CO2, cuja origem tem sido largamente debatida, os fundos dos oceanos terão ficado pobres em oxigénio e a atmosfera, pela amplificação do efeito de estufa, terá aquecido substancialmente, associando-se a toda esta conjugação de factores, a extinção de alguns grupos de invertebrados", explica o investigador.

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Luís Vítor Duarte, docente e investigador da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra Universidade de Coimbra

"Com o aumento da concentração do chamado carvão vegetal (charcoal), em sedimentos cerca de um milhão de anos mais recentes do que o início do referido episódio de anoxia, demonstra-se o 'timing' do restabelecimento das condições de oxigenação dos ambientes marinhos e continentais, bem como a recuperação da biosfera", acrescenta ainda Luís Vítor Duarte.

Este estudo "decorre de uma série de outros trabalhos que têm sido realizados em Peniche, publicados em várias revistas da especialidade, e que colocam este local como um dos mais importantes no reconhecimento deste evento à escala global", salienta o docente da Faculdade de Ciências de Coimbra e investigador do MARE (Centro de Ciências do Mar e do Ambiente da UC). Esta nova descoberta "contribui para a compreensão das interacções entre os diversos sistemas terrestres", advoga Luís Vítor Duarte, sublinhando "a importância que esta temática tem no mundo actual, com as visíveis e sentidas alterações climáticas". "Os resultados deste estudo ajudam a perceber o funcionamento dos ciclos biogeoquímicos, bem como os possíveis efeitos das mudanças rápidas nas emissões de carbono", conclui.

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