Teresa Morais não foi eleita para fiscalização das secretas por 30 votos

Social-democrata obteve 112 votos numa eleição em que não participaram mais de 105 deputados de PSD e CDS. Mas precisava de dois terços, de 142.

Foto
Miguel Manso

 

Telmo Correia, vice-presidente da bancada do CDS, lamentou o resultado e atribuiu o chumbo a uma "mera teimosia partidária do PS". O chumbo "é bastante preocupante", assinalou, lembrando que é da responsabilidade do PS as duas polémicas relacionadas com as "secretas".   

A deputada do PSD Teresa Morais não conseguiu esta tarde reunir os dois terços dos votos dos deputados que participaram na eleição para a presidência do Conselho de Fiscalização dos Serviços de Informações da República Portuguesa (CFSIRP), vendo assim chumbada a sua candidatura ao cargo. Teresa Morais, que avançou sem o apoio do PS, precisava de 142 votos favoráveis, mas obteve apenas 112 votos a favor, 75 em branco e 25 nulos.

Embora o voto seja secreto, parece provável que a vice-presidente do PSD tenha obtido votos de deputados da esquerda. É que só estavam presentes 16 dos 18 deputados do CDS, pelo que, mesmo que tivessem votado, em bloco, todos os 89 deputados do PSD, o máximo que a direita estava em condições de assegurar eram 105 votos. De qualquer forma, o resultado reflecte a falta de apoio do PS, a segunda maior bancada do Parlamento com 86 deputados. O PCP (15) e o BE (19) tinham avisado que não apoiavam esta candidatura, tal como o PS cujo líder da bancada afirmou que o nome proposto pelo PSD não correspondia ao perfil adequado para a presidência do CFSIRP.  

Após a contagem dos votos, o líder parlamentar do PSD, Luís Montenegro, disse aos jornalistas lamentar “profundamente” o resultado. “Fica a dever-se a uma intransigência injustificada”, “abriu um precedente grave nas relações institucionais entre os dois partidos”, reagiu Montenegro sem avançar qual será o próximo passo para se encontrar um novo candidato. Para já, o chumbo vai ser analisado “nos órgãos próprios do partido”. “Não há plano B, só há plano A”, respondeu aos jornalistas sobre se o PSD vai propor um outro nome para o cargo.

O mesmo tom de conflitualidade foi dado pelo líder da bancada do PS. "O PSD aprendeu que o tempo do ‘quero, posso e mando’ acabou”, afirmou Carlos César, assinalando que a “lealdade institucional” entre os dois partidos já tinha sido quebrada quando a bancada laranja subscreveu a candidatura de Correia de Campos para o Conselho Económico e Social e depois “não votou” nela.

Questionado sobre a posição de não contestação a Teresa Morais assumida pelos deputados socialistas na audição desta terça-feira, Carlos César disse que não se trata de fazer uma “avaliação entre pares” mas sim de uma avaliação “política”. Já sobre a informação de que há e-mails de deputados socialistas a sugerirem que iriam votar na candidata do PSD, César disse que não lhe foi comunicada nenhuma situação do género.

Telmo Correia, vice-presidente da bancada do CDS, lamentou o resultado e atribuiu o chumbo a uma "mera teimosia partidária do PS". O chumbo "é bastante preocupante", assinalou, lembrando que é da responsabilidade do PS as duas polémicas relacionadas com as "secretas".   

O bloqueio entre os dois principais partidos foi também assinalado pelo deputado do PCP António Filipe. “Este modelo de partilha leva a situações como esta”, afirmou, defendendo que “devia ser encontrada uma outra solução [para eleição] no quadro democrático”. Tal como António Filipe, também o bloquista José Manuel Pureza sublinhou a discordância face ao funcionamento do sistema.

Sugerir correcção
Comentar