Os desafios urgentes da gestão da EDP

A gestão de topo da EDP e EDP Renováveis está debaixo de uma nuvem de suspeitas, mas tem vários temas em agenda para gerir no curto prazo.

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Rui Gaudencio

A aposta nas Renováveis e nos EUA

Uma EDP mais verde, com maior visibilidade enquanto empresa do sector renovável e a apostar todas as fichas no continente americano. Essas foram as grandes motivações avançadas pela EDP para avançar com uma Oferta Pública de Aquisição (OPA) sobre a sua empresa de energias limpas, a EDP Renováveis. A aguardar há mais de um mês para avançar com o registo da oferta junto da Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM), pelo meio a EDP vai enfrentando críticas de alguns investidores (como aqueles representados pela norte-americana MFS Investment Management, que no conjunto tem 4% do capital e votos da empresa) à contrapartida oferecida: 6,8 euros, muito inferior aos 8 euros com que se estreou em bolsa em 2008.

A saída dos negócios regulados de gás

Numa semana a EDP anunciou a venda de dois negócios regulados (leia-se geradores de receita certa) de distribuição de gás. Primeiro em Espanha (no mesmo dia em que anunciou a OPA à EDP Renováveis) e depois em Portugal. O negócio português – a EDP Gás Distribuição – foi vendido à REN por 500 milhões, enquanto a venda da espanhola Naturgas representou um encaixe de 2500 milhões de euros. Uma liquidez que a empresa anunciou pretender usar não só para financiar parte da compra dos 22,5% que ainda não detém na Renováveis, mas também para reduzir dívida, um gigante que no primeiro trimestre aumentou 1%, para 16.047 milhões de euros.

Incógnitas nos Estados Unidos

Com contratos de venda de electricidade de longo prazo na mão e com a certeza de que os estados norte-americanos onde faz negócio recusam fazer marcha atrás nas suas políticas energéticas que privilegiam as renováveis, a EDP tem procurado tranquilizar os investidores quanto ao impacto da Administração Trump na sua actividade. Apesar disso, a retirada dos Estados Unidos do Acordo de Paris vem introduzir algum grau de incerteza sobre potenciais obstáculos que ameaçam um sector amplamente apoiado pela administração Obama, mesmo ao nível da política fiscal.

O regresso dos CMEC

Antes da liberalização do mercado eléctrico, as centrais da EDP beneficiavam de contratos de longo prazo de aquisição da energia produzida, os CAE, que representavam uma verdadeira renda fixa, e que se destinavam a remunerar os investimentos feitos pela empresa em cada uma dessas infra-estruturas. A pretexto da abertura do mercado exigida por Bruxelas, em 2004 foi aprovada legislação para cessar esses contratos e substitui-los por outros instrumentos só vagamente mais próximos do conceito de concorrência. Isto porque, sim, as centrais passaram a vender a sua produção em regime de concorrência no mercado grossista, mas em simultâneo ficaram com a garantia de que teriam sempre um determinado nível de receitas garantidas através de um mecanismo baptizado como Custos para a Manutenção do Equilíbrio Contratual, os CMEC. Esses instrumentos, a cuja criação e metodologia Bruxelas deu aval, foram negociados e operacionalizados em 2007 e estão na origem de boa parte daquilo que é hoje conhecido como as rendas da energia. Segundo a ERSE, nas tarifas da luz deste ano têm um peso de 191 milhões de euros.

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