Uma vitória para o medo

Theresa May quer que o Reino Unido persiga quem tem uma ideologia extremista, independentemente de ser violenta ou não.

Tal como em França, o Reino Unido vai às urnas sob o peso do terrorismo. Ao contrário do que aconteceu do lado de cá da Mancha, a violência pode ser o factor que desequilibra estas eleições.

O discurso da primeira-ministra, ontem, tentou explorar precisamente isso. E marcou uma deriva que merece ser salientada: Theresa May quer que o Reino Unido persiga quem tem uma ideologia extremista, independentemente de ser violenta ou não. O risco é que dê carta-branca a todo o tipo de xenofobias que atacam apenas pela diferença.

Contra o terror, em França, Macron ganhou pela defesa do liberalismo e da sociedade aberta. Em Inglaterra, Theresa May não é liberal nem acredita num Reino Unido aberto ao mundo, pelo menos não em tempos de “Brexit”. E o seu opositor trabalhista concorda com ela. Jeremy Corbyn não será o protagonista de uma deriva nacionalista, mas não enjeitará o isolacionismo.

Ambos representam, à sua maneira, uma recusa da globalização. E são, nesse sentido, parceiros dignos de Donald Trump. É interessante notar que quer os conservadores, quer os trabalhistas apresentam uma visão muito semelhante para o “Brexit” — preferindo abandonar o mercado comum e limitar a circulação de trabalhadores, apostando em vez nisso numa parceria renovada com os EUA.

Nenhum deles se mostra minimamente preparado para enfrentar os desafios necessários a um líder do século XXI. Não apresentaram uma ideia sobre a robotização da economia, a renovação da educação, a importância da investigação de ponta e a necessidade de rever as funções do Estado numa sociedade digital. 

Em vez disso, disputaram uma triste corrida para trás: Jeremy Corbyn quer fazer o maior aumento de impostos desde a Segunda Guerra Mundial e aplicar uma política de nacionalizações que faria o país recuar 40 anos — com consequências catastróficas para as finanças públicas e para o mercado de trabalho. Para além da ameaça xenófoba e da promessa de reinstaurar a caça à raposa, Theresa May tem mostrado uma indecisão inusitada: pode aumentar os impostos (ou não), pode alterar as leis laborais (ou não), pode reduzir os benefícios sociais para pobres e reformados (ou não).

Nada disto irá ajudar o Reino Unido nem o caos em que está a sua economia. Desde o “Brexit”, a libra caiu 20%, o crescimento económico é o menos robusto das economias desenvolvidas, a inflação teima em não descer e o custo de vida continua a aumentar, penalizando uma classe média que sofre cada vez mais. É um cenário perfeito para jogar com o medo, exactamente o que os terroristas pretendem.

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