Assembleia Municipal do Porto esteve quase, quase a ignorar situação política local

Só a CDU abordou a questão da ruptura entre o movimento independente de Rui Moreira e o PS. Mas só depois de dois apartes de Honório Novo e do silêncio das restantes forças políticas

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Pizarro e Moreira estiveram juntos na recepção ao Presidente da República Nelson Garrido

Parecia que ninguém na Assembleia Municipal do Porto queria tocar no assunto da ruptura entre o movimento independente de Rui Moreira e o PS e isto apesar de, nesse mesmo dia, os vereadores Manuel Pizarro e Manuel Correia Fernandes terem devolvido os respectivos pelouros da Habitação e Acção Social e do Urbanismo ao presidente Rui Moreira, que ficou com o primeiro e entregou o segundo a Rui Losa. Só Honório Novo, da CDU, dava a indicação de que o assunto acabaria por ser abordado. Mas demorou.

Rui Moreira foi o primeiro a falar, na habitual prestação de contas trimestrais da autarquia aos deputados municipais. Estava o autarca a preparar-se para retomar o seu lugar, depois de ter dito que “a execução orçamental estava em linha com o orçamento” e que a dívida bancária estava, no final do primeiro trimestre, nos 31,9 milhões de euros (menos 45,7 milhões do que no mesmo período do ano passado), quando se ouviu o primeiro aparte de Honório Novo: “O senhor presidente não tem mais nada para nos dizer?” Moreira não respondeu e sentou-se.

Intervieram depois José de Castro, do Bloco de Esquerda, e Francisco Carrapatoso, do PSD. Rui Moreira respondeu a ambos, só que como nenhum tocou sequer na questão do conturbado momento político local, o autarca também não o fez. Mas, aproveitando um súbito feedback do microfone, Honório Novo voltou à carga: “Até o microfone se espanta com os assuntos que se estão a tratar aqui”, disse, num novo aparte.

Desta vez, Rui Moreira não ficou calado e disse ao deputado que responderia a tudo o que lhe perguntassem, desde que o fizessem. Coube a Belmiro Magalhães, da CDU, chegar, finalmente, ao tema da ruptura entre os independentes e os socialistas e o anúncio consequente de que Manuel Pizarro irá ser candidato à presidência da câmara. “Não podemos fazer esta Assembleia Municipal como se estivéssemos num bunker isolados da realidade que nos rodeia”, disse o comunista. Que, depois de tecer elogios à coerência do seu próprio partido, acabou a dizer-se preocupado com a mudança de mãos dos pelouros que Pizarro e Correia Fernandes detinham. “Tinham responsabilidades de áreas muito importantes, que são subitamente atiradas de mão em mão. Não nos assiste o direito de pôr em causa o normal funcionamento dos serviços”, disse, afirmando ainda: “A população do Porto não pode ser quem paga as consequências deste insólito e embaraçoso desfecho”.

Se alguém esperava que Rui Moreira aproveitasse o momento para iniciar a campanha contra Manuel Pizarro, enganou-se. Porque, tal como fizera na entrevista à TSF, poucas horas antes, o presidente da Câmara do Porto só teve elogios para o agora seu ex-vereador da Habitação e Acção Social. “Não tenho dúvida nenhuma que tudo o que foi tratado pelo senhor vereador Manuel Pizarro foi tratado bem e competentemente”, disse, garantindo: “O que farei será continuar a fazer aquilo de que os munícipes do Porto muito se orgulham”. Moreira disse ainda que “Manuel Pizarro e o seu pelouro foram os principais responsáveis, com total confiança” do próprio presidente, pelo que considera ser uma melhor situação dos bairros sociais e dos seus moradores. E, com isto, o autarca rejeitou o apelo de Belmiro Magalhães para que suspenda os aumentos de renda decorrentes da revisão implementada em Abril.

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