Vacina desenvolvida no Porto para a meningite, pneumonia e septicemia

Já passou por experiências em ratos e coelhos e agora os cientistas esperam que, ainda em 2017, a vacina passe à fase dos ensaios em seres humanos.

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No topo, bactérias Escherichia coli e, na parte de baixo, Staphylococcus aureus SallyStatham/TGen

Investigadores do Porto desenvolveram uma vacina que ajuda a prevenir ao mesmo tempo infecções bacterianas que causam doenças como meningite, pneumonia e septicemia (invasão da corrente sanguínea por agentes patogénicos, que nos casos mais críticos pode levar à morte por choque séptico).

As bactérias que originam essas patologias – Klebsiella pneumoniae, Escherichia coli, Estreptococus do grupo B, Streptococcus pneumoniae e Staphylococcus aureus – são estirpes muito resistentes e causam “um enorme problema para a saúde pública”, disse à gência Lusa o cientista Pedro Madureira, do Instituto de Investigação e Inovação em Saúde (i3S) da Universidade do Porto.

A partir do momento que essas bactérias infectam o hospedeiro – neste caso, a pessoa – são capazes de libertar uma molécula designada GAPDH, que as torna “invisíveis” ao sistema imunitário, explicou o cientista, um dos fundadores da empresa Immunethep, responsável pela criação da vacina. Desta forma, as bactérias impedem o início de uma resposta do sistema imunitário para as combater.

Sem uma resposta adequada do nosso sistema imunitário, continua Pedro Madureira, as bactérias “rapidamente proliferam” na corrente sanguínea e nos órgãos infectados, podendo levar às tais patologias, consideradas bastante graves. “Embora esta vacina seja destinada a todas as pessoas”, existem indivíduos nos quais a “incidência desse tipo de infecções é maior”, como, por exemplo, os recém-nascidos, os idosos, os portadores de diabetes do tipo I, os pacientes submetidos a intervenções cirúrgicas invasivas (operações ao coração ou à espinal medula) ou com doença pulmonar obstrutiva.

O investigador considera esta vacina “inovadora”, visto que, ao invés de induzir uma resposta imunitária (a produção de anticorpos) contra a bactéria em si, induz, sim, uma resposta que neutraliza uma única molécula (a GAPDH), libertada pelas bactérias, permitindo ao sistema imunitário controlar as diferentes infecções.

A vacina, que já passou por ensaios laboratoriais com ratos e coelhos, vai passar à fase dos ensaios clínicos no último trimestre de 2017, prevê o investigador.

Este foi um dos projectos apresentados esta sexta-feira no i3S, um dos institutos que participa nas comemorações do Dia Internacional da Imunologia, organizadas pela Sociedade Portuguesa de Imunologia. A iniciativa, que no Porto termina por volta das 17h00, conta com palestras e outras actividades para dar a conhecer aos alunos do ensino secundário a investigação desenvolvida na área da imunologia. Também participaram nestas comemorações o Instituto de Medicina Molecular, de Lisboa, o Instituto Gulbenkian de Ciência, em Oeiras, o Centro de Neurociências e Biologia Celular da Universidade de Coimbra, a Universidade de Aveiro e o Instituto de Investigação em Ciências da Vida e Saúde da Universidade do Minho.

As vacinas são “algo que funciona”

Para além da vacina, Pedro Madureira disse que a Immunethep está a desenvolver uma forma de terapia baseada em anticorpos monoclonais, que neutralizam a proteína GAPDH, podendo ser usados em pessoas já infectadas e para as quais não há tempo para vacinação. “Estes anticorpos têm a vantagem, em relação à vacina, de actuarem muito rapidamente e a desvantagem de não induzirem ‘memória imunológica’”, explicou o investigador. Esta memória está associada à capacidade do nosso sistema imunitário, após um primeiro contacto com um agente estranho, conseguir desencadear uma resposta muito mais rápida e eficiente.

Na apresentação no i3S, Pedro Madureira também falou da importância e da história das vacinas, de forma a “desmistificar” algumas incertezas sobre a vacinação e, ainda, sobre esta ter sido uma “grande conquista da imunologia e da medicina”. Pedro Madureira acredita que grande parte da polémica actual relacionada com a vacinação deve-se à “má informação” ou ao “pouco esclarecimento” que se tem sobre o tema, daí a necessidade de se transmitir uma informação “clara e precisa” quando se fala publicamente acerca deste assunto. As vacinas são “algo que funciona”, sendo esta a abordagem clínica que “melhores resultados trouxe para a humanidade”.

Apesar de compreender os casos em que os indivíduos não podem ser vacinados, devido a uma resposta alérgica, sublinhou que se “todas as outras pessoas estivessem vacinadas e não houvesse movimentos antivacinas”, esses indivíduos estes estariam seguros porque não haveria forma de transmitir a doença.

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