Coreia do Norte: Trump junta pressão diplomática à exibição de força

Regime de Kim Jong-un celebrou aniversário do Exército com exercícios de artilharia "em larga escala". Washington tenta convencer Pequim a apoiar novas sanções contra Pyongyang.

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O submarino USS Michigan está armado com mísseis Tomahawk Yonhap/EPA

Não foi um novo teste nuclear, como se chegou a temer, mas a Coreia do Norte não deixou passar em claro o 85.º aniversário da criação do seu Exército, celebrando a data com um “exercício de artilharia em larga escala” na costa Leste do país. A sul do paralelo 48, um submarino norte-americano, equipado com mísseis Tomahawk, chegou nesta terça-feira à Coreia do Sul, numa visita que o Pentágono classificou como “de rotina”. Mas ao mesmo tempo que flecte o seu músculo militar, Washington tenta aumentar a pressão diplomática sobre o regime de Pyongyang.

Os exercícios ocorreram na região de Wonsan, onde o regime norte-coreano tem uma base militar usada já para testar novos mísseis. Segundo os militares de Seul, o próprio líder norte-coreano, Kim Jong Un, poderá ter supervisionado as manobras. “Não há limites para o poder ofensivo do Exército do Povo, armado com equipamento de ponta, incluindo várias armas nucleares miniaturizadas e de precisão e mísseis balísticos lançados a partir de submarinos”, assegurou o Rodong Sinmun, o jornal oficial do partido comunista coreano, dizendo que tal poderio está preparado para “pôr um fim à história de conspirações e chantagem nuclear dos Estados Unidos contra o país”.

No último mês os dois países têm trocado avisos num tom de crescente crispação, com o regime de Pyongyang a dizer-se preparado para “ataques preventivos de enorme poder” contra a Coreia do Sul. Donald Trump, por seu lado, insiste que não irá permitir que Kim Jong Un continue a desenvolver armas capazes de atingir os Estados Unidos, deixando pairar no ar a possibilidade de um confronto com riscos que até aqui nenhum Presidente norte-americano aceitou assumir.

Uma escalada retórica reforçada por manobras militares e reposicionamento de forças, a última das quais foi a chegada, esta terça-feira, do submarino nuclear USS Michigan ao porto sul-coreano de Busan. Segundo um jornal local, além de 154 mísseis de cruzeiro, o navio transporta mini-submergíveis e 60 membros das forças especiais.

O submarino deverá juntar-se à esquadra encabeçada pelo porta-aviões USS Carl Vinson, que depois de informações contraditórias sobre o rumo seguido deverá partir em breve para as águas da Coreia do Sul, após exercícios conjuntos com a Marinha japonesa no mar das Filipinas – Pyongyang ameaçou domingo que, em caso de provocação, afundar “com um único ataque” o navio norte-americano.

O Departamento de Estado anunciou entretanto que o chefe da diplomacia norte-americana, Rex Tillerson, vai presidir sexta-feira a uma reunião do Conselho de Segurança das Nações Unidas sobre a Coreia do Norte, país que “se coloca como uma das mais graves ameaças à segurança e à paz internacional”. “O encontro dará aos países membros uma oportunidade para discutir forma de maximizar o impacto das medidas existentes e mostrar a nossa determinação em responder a mais provocações com medidas apropriadas”, afirma a diplomacia americana, numa referência clara à adopção de novas sanções caso Pyongyang realize aquele que seria o seu sexto ensaio nuclear.

O destinatário implícito da mensagem é a China, que Washington tenta convencer a aumentar a pressão sobre o país vizinho e aliado, acenando com o risco de um conflito que desestabilizaria toda a região. Domingo à noite, Trump voltou a falar ao telefone com o Presidente Xi Jiping que de novo pediu aos dois lados que “mantenham a contenção e evitem acções que possam aumentar a tensão”.

Mas a imprensa de Pequim dá sinais de uma crescente exasperação com Kim Jong Un, que aparenta estar disposto a tudo para garantir que tem as armas necessárias a garantir a sobrevivência do regime. "Os responsáveis norte-coreanos estão a sobrestimar de forma perigosa a sua força e a subestimar os perigos que eles próprios estão a alimentar”, escreveu o China Daily, o jornal oficial de Pequim em língua inglesa, enquanto o Global Times, propriedade do Partido Comunista, avisava que “se a Coreia do Norte realizar como esperado um sexto ensaio nuclear, é mais provável do que nunca que a situação atinja um ponto de não retorno”. “Todas as partes vão enfrentar consequências e Pyongyang sofrerá as piores perdas”.

Esta terça-feira, os responsáveis para a Coreia do Norte do Japão, Coreia do Sul e EUA reuniram-se em Tóquio para discutir a actual situação. No final, o representante nipónico disse que todos concordam que a China tem de endurecer a resposta às acções de Pyongyang, incluindo um embargo à venda de petróleo – Pequim é o grande fornecedor de combustível ao regime norte-coreano e um corte, ainda que temporário, teria graves consequências no país. O responsável sul-coreano, Kim Hong-kyun, afirmou que o grupo discutiu formas de incluir a Rússia neste esforço, o que poderá acontecer já esta quinta-feira, quando o primeiro-ministro japonês, Shinzo Abe, visitar Moscovo. 

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