Começa segunda-feira o concurso para a venda de vinho da Casa do Douro

Processo de venda de 81.400 litros servirá para pagamento salários e indemnizações aos trabalhadores.

Foto
Adriano Miranda

A comissão administrativa da Casa do Douro (CD) prevê iniciar na segunda-feira o processo de venda de 81.400 litros de vinho do Porto, para angariar 1,1 milhões de euros e pagar salários e indemnizações aos trabalhadores.

Agostinho Santa, responsável pela comissão administrativa do património da extinta CD, instalada no Peso da Régua, distrito de Vila Real, disse à agência Lusa que, em princípio, na segunda-feira irá dar início ao concurso e será divulgado o regulamento para a venda do vinho. As propostas podem ser apresentadas até 3 de Maio.

Apenas as 105 empresas que estão inscritas no Instituto dos Vinhos do Douro e Porto (IVDP), nomeadamente negociantes de vinho do Porto ou comerciantes de vinho generoso, é que podem adquirir este produto.

"As propostas serão abertas logo nos dias a seguir e, se tudo correr bem, até ao final do mês de Maio estamos prontos para pagar aos trabalhadores", afirmou Agostinho Santa.

O objectivo é conseguir fazer negócios na ordem dos 1,1 milhões de euros, necessários para pagar as dívidas aos trabalhadores, à Segurança Social e também às Finanças.

Agostinho Santa explicou que em causa estão os vencimentos e indemnizações que ficaram por pagar aos funcionários que perderam o vínculo laboral quando a CD foi extinta e outros que já tinham saído da instituição, mas que ficaram também com pagamentos em atraso.

"Pelos indicadores que vamos tendo, penso que poderá haver respostas positivas. Se conseguirmos fazer o dinheiro também temos resolvido, a curto prazo, o problema das dívidas aos trabalhadores que é, como temos dito sempre, a nossa prioridade e é uma urgência absoluta", salientou.

Para o processo de venda arrancar faltava a nomeação de um fiscal único, o qual já avaliou a proposta de venda, e que deverá dar o aval final por parte do Ministério da Agricultura.

Logo depois, serão enviados ofícios aos possíveis compradores e, na segunda-feira, o aviso será publicado num órgão de comunicação social nacional e no site oficial do IVDP.

Para esta venda, foram seleccionados os lotes de vinho que estão sem ónus, ou seja, que não têm penhora mercantil ao Estado ou à Parvalorem. Foram escolhidos 81.400 litros de vinho, separados em 27 lotes de colheitas que vão desde 1934 até 2001.

A Federação Renovação do Douro - Casa do Douro, organização que ganhou o concurso para a gestão provada da instituição duriense, disse que o pagamento aos ex-funcionários é de "elementar justiça" mas mostrou-se contra "a forma de venda" deste vinho.

"A Casa do Douro está contra liquidar-se vinhos para arranjar liquidez urgente, porque acha que os vinhos devem ser tratados com ponderação e equilíbrio e devem ser criadas regras para serem introduzidos no mercado e tudo o que for fora disso põe em risco o equilíbrio, que é pequeno, na região", afirmou António Lencastre, presidente da Federação.

O responsável considerou que a "venda apressada de vinhos, sem controlo e completamente desregulada", tem sempre uma consequência, que "é a baixa de preço".

"Quando a gente quer obrigar alguém a comprar o preço cai, quando a gente quer obrigar uma região a ter excedentes a demanda de vinho baixa e, isso, vai ter reflexos em cima dos viticultores. Começamos com 81.400 litros e não vamos saber nunca até onde vai a ânsia de venda sem regulação e essa é a preocupação essencial", frisou.

António Lencastre adiantou como alternativa à venda de vinho a venda de património imobiliário, que se está a degradar.

Criada em 1932, a CD viveu durante anos asfixiada em problemas financeiros possuindo uma dívida ao Estado que atingiu, segundo o Governo PSD/CDS-PP, cerca de 160 milhões de euros.

A Casa do Douro pública foi extinta em Dezembro de 2014, posteriormente a Federação Renovação do Douro ganhou o concurso para gerir a CD privada e, já com o Governo PS, foi nomeada uma comissão administrativa para a regularização das dívidas da extinta Casa do Douro e da situação dos trabalhadores.

Sugerir correcção
Comentar