O teu lugar é nosso

Oscar Munoz foi um bully prepotente. Mas é a política de overbooking que está errada. A ganância de encher os aviões só tem a ver com a margem de lucro.

Oscar Munoz está tramado. A carta que escreveu aos trabalhadores da United é boçal e sobranceira. Mal se instalou o alvoroço (depois dos videos da expulsão violenta de David Dao, um passageiro de 69 anos já sentado no avião), os propagandistas das companhias aéreas começaram a emitir comunicados a defender o overbooking.

Alguns jornais, como o Financial Times, compraram as justificações e repetiram-nas à letra. É verdade que as companhias de aviação têm o direito de nos expulsar de um avião sem nada termos feito de mal.  Basta recusarmo-nos a sair de livre vontade. Ao comprarmos um bilhete, pelos vistos, autorizamos a transportadora a expulsar-nos, caso queira.

O overbooking é apresentado como um mal necessário, uma coisa que só raramente se traduz em expulsar passageiros. Até se diz que, se não fosse o overbooking, pagaríamos mais pelos nossos bilhetes. Só faltou mencionar-se o desperdício de combustível quando os aviões voam com lugares vazios.

Oscar Munoz foi um bully prepotente. Mas é a política de overbooking que está errada. A ganância de encher os aviões só tem a ver com a margem de lucro - e os passageiros que se lixem.

Nos voos domésticos dos EUA o overbooking é verdadeiramente sistémico. É uma violência capitalista que depende - sem paradoxo - da falta de respeito pelos clientes que já pagaram os bilhetes.

O caso de David Dao não foi extremo. Ainda bem que não colaborou. Assim pôs a nu uma prática quotidiana que assenta no suborno e na força. Obrigado, Dr.Dao!

 

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