Nem a beleza de Claudia Cardinale escapa à manipulação fotográfica

No cartaz do festival de Cannes, a silhueta da actriz foi emagrecida. Cardinale considerou que o caso é uma “falsa polémica”.

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A actriz acredita que a fotografia só foi retocada para lhe garantir um "efeito de ligeireza" Reuters/HANDOUT

O cartaz da 70.ª edição do Festival de Cinema de Cannes, em que Claudia Cardinale aparece a dançar com um vestido esvoaçante, está a causar polémica. Isto porque a imagem da actriz italiana foi retocada para que parecesse mais magra: as coxas e a cintura parecem mais finas e também o cabelo e os pés foram modificados. A actriz reagiu ao sucedido considerando que se trata de uma “falsa polémica”, não tendo “comentários a fazer sobre o trabalho artístico feito na imagem”, segundo o Twitter da agência noticiosa AFP.

“Trata-se de um cartaz que, para além de me representar, representa uma dança, um voo. Esta imagem foi retocada para acentuar este efeito de ligeireza que me transpõe para uma personagem sonhada; trata-se de uma sublimação”, explica Claudia Cardinale. A organização do Festival de Cannes não se pronunciou sobre o assunto.

“Entre o original e a cópia, Claudia Cardinale baixou um tamanho de cintura”, lê-se num tweet do jornal francês Libération. Já a actriz considera que a "inquietação com o realismo não é relevante neste caso”, e que, enquanto feminista convicta, não crê que exista alguma infracção ao corpo da mulher na edição da imagem.

Nas redes sociais, as críticas fizeram-se ouvir: “É preciso retocar até uma Claudia Cardinale jovem. Parem a ditadura do centímetro! Parem as injecções de magreza nas mulheres”, lê-se numa reacção publicada no Twitter. Na mesma rede social, houve até quem refizesse o cartaz com a fotografia original, sem retocar o corpo da actriz. 

Claudia Cardinale, no entanto, foi categórica: “Há, neste momento, coisas bem mais importantes a serem debatidas neste mundo. Não passa de cinema, não nos esqueçamos.”

A título de curiosidade, a entrada em vigor, a 1 de Janeiro deste ano, de uma lei francesa obriga a que exista a menção “fotografia retocada” nas imagens de uso comercial que tenham sido modificadas digitalmente com o intuito de emagrecer ou engordar a silhueta de modelos. Esta norma visa evitar casos de distúrbios alimentares como a anorexia, sobretudo entre a população mais jovem.

A escolha da fotografia de 1959 em que aparece Claudia Cardinale, de 21 anos, “alegre, livre e audaz” a dançar descalça num telhado em Roma foi revelada pela organização do festival nesta quarta-feira. Num comunicado divulgado online, a direcção do festival caracteriza Cardinale como  uma “mulher independente, uma cidadã comprometida”.

Em resposta à homenagem, Claudia Cardinale, agora com 78 anos, disse sentir-se “honrada e orgulhosa” por ter sido a escolhida para “transportar as cores da 70.ª edição de Cannes”. Estava igualmente feliz pela escolha da fotografia: “Corresponde à imagem que tenho do festival: um esplendor”, afirma a actriz nascida na Tunísia em 1938.   

Claudia Cardinale começou a sua carreira um ano antes de a fotografia em questão ter sido tirada. Participou em filmes como Gangsters Falhados, Os Profissionais, O LeopardoRocco e os seus Irmãos ou Amantes sem Passado, tendo ainda um papel em O Gebo e a Sombra, de Manoel de Oliveira.  

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