Ganhar as autárquicas em Lisboa é, quase sempre, ganhá-las no país. E perdê-las?

PSD perspectiva mau resultado nas autárquicas, mas divide-se quanto à antecipação do congresso. Marques Mendes diz que o “essencialíssimo é saber se vai haver um confronto na liderança”.

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A câmara de Lisboa é essencial para o resultado nacional Nuno Ferreira Santos

Os números dos últimos 40 anos não enganam. O partido que ganha a Câmara de Lisboa é, normalmente, o partido que acaba por conseguir mais presidências no país. Se há câmaras importantes, a da capital é uma delas e a do Porto será outra.

Há excepções. Em 2009, por exemplo, o PSD teve um bom resultado autárquico no país todo, conseguindo 117 presidências sozinho mais 22 com o CDS e/ou outros partidos, mas foi o PS que venceu em Lisboa. António Costa, mais precisamente, conseguiu ser reeleito e era José Sócrates quem liderava o Governo.

Também pode dizer-se, com segurança, que quem está na oposição raramente perde autárquicas, o que é uma pressão adicional para Passos Coelho. Aconteceu assim em 2013, 2005, 2001, 1993, 1989. É preciso recuar até 1985 para encontrar um partido que estava no governo e conseguiu ganhar mais câmaras. O primeiro-ministro era Cavaco Silva, mas a cena havia-se repetido com Pinto Balsemão e Mota Pinto.

A leitura nacional das autárquicas será particularmente importante para o futuro do PSD. Se ganhar a capital pode significar uma vitória no país. E perder será derrota certa? Mesmo que fosse, que implicações isso teria para a sobrevivência de Passos à frente do PSD? Marques Mendes, antigo líder, reconhece que as eleições poderão ter uma leitura mais ampla. “A meio de um mandato de legislatura essa leitura nacional é ainda mais forte”. Em especial num período em que a “liderança de Passos Coelho não está a atravessar uma boa fase. Isso é consensual!”, refere.

“As autárquicas vão ajudar a fortalecer a liderança ou vão ajudar a fragilizá-la, é muito difícil ficar tudo igual. Se o líder ficar mais forte o resultado tem uma leitura; se o líder ficar mais fraco pode ter consequências e essa é que é a questão-chave”, declara Mendes ao PÚBLICO, convencido que Passos não vai abandonar mesmo com um mau resultado.

O ex-líder não esconde que não acredita numa vitória do seu partido - “manifestamente, não é provável que o PSD consiga ganhar” - e adverte que “um mau resultado no Porto e em Lisboa agravam a situação e tem implicações a nível da liderança”.

Mais dez menos dez   

Muitos sociais-democratas partilham desta leitura, mas divergem quanto à antecipação de um congresso, previsto para 2018. Mendes não vê vantagens numa antecipação, até porque, sustenta, “Dezembro e Janeiro são dois meses suis generis e ninguém vai andar a fazer campanha eleitoral”. Na sua opinião, o que é “verdadeiramente importante” é saber se “em função do que tem acontecido e depois com os dados das autárquicas vai haver uma disputa de liderança”. “Para mim, o ponto essencialíssimo é saber se vai haver um confronto na liderança”, vinca.

O antigo líder do PSD não fala de nomes, mas Rui Rio, que vai somando apoios, já deixou claro, numa entrevista ao Diário de Notícias no final do ano passado, que pode ser uma alternativa e disputar as eleições directas com Passos.

Discorda da realização de um congresso antes da Primavera de 2018. Essa posição ficou clara quando confrontado com a notícia de que apoiantes seus teriam reunido assinaturas para a convocação de um. Nessa altura, o antigo secretário-geral do PSD disse: “Um congresso antecipado só faz sentido se o líder decidir sair, caso contrário o normal é cumprir-se os prazos”.

Fonte do PSD declarou ao PÚBLICO que a antecipação do congresso “vai ter de ser necessária mesmo que o PSD ganhe mais dez câmaras que em relação a 2013 [ano em que perdeu 30 concelhos face a 2009]”. Porquê? “Porque não ganhando Porto e Lisboa, o resultado não é suficiente para as pessoas olharem para Passos e dizer que ele vai ser primeiro-ministro, nesse cenário, ele próprio terá a tendência para clarificar a situação o mais depressa possível. Se, pelo contrário, o PSD perder dez câmaras, a pressão vai ser tal que vai acabar mesmo por ter de antecipar o congresso para os militantes escolherem uma nova liderança”. “Vai ser difícil não antecipar. As circunstâncias vão ser de tal maneira que apontarão sempre para que o congresso se realize mais cedo. Só não será assim, se o PSD ganhar as eleições contra todas as expectativas”, acrescenta.

Também o presidente do PSD-Porto, Miguel Seabra, admite que, se a derrota for pesada, possa haver um conclave mais cedo, mas não afasta um novo combate entre Passos Coelho e António Costa, salvaguardando, embora que “se vivem tempos de muita incerteza, o que torna difícil perspectivar o que aí vem. Mesmo assim, arrisca dizer que “se houver um novo resgate até Outubro, o presidente do PSD fica na liderança do partido e o povo vai dar-lhe razão”.

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O pior e o melhor

No caso de Lisboa ninguém no PSD assumiu metas para Teresa Leal Coelho, mas faz uma década o PSD obteve o pior resultado em Lisboa, nas eleições de 2007 ganhas por Costa.

Carmona Rodrigues, que não quis falar ao PÚBLICO neste momento, havia perdido a confiança política do PSD e avançou como independente . O PSD obteve 15,9%, pouco mais de 30 mil votos. O candidato do PSD era Fernando Negrão.

Já o melhor resultado de sempre, foi obtido por Kruz Abecasis, em 1979, quando 228.656 lisboetas confiaram o seu voto à AD. Foi a primeira vez que um cabeça-de-lista do CDS venceu Lisboa, repetindo a façanha em 1982 e 1985, mas com menos votos.

Desta vez, PSD e CDS concorrem separados. Unidos apenas no género das candidaturas, protagonizadas por duas mulheres. 

Desta vez, PSD e CDS concorrem separados. Unidos apenas no género das candidaturas, protagonizadas por duas mulheres.

 

 

 

 

 

 

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