O passo do caranguejo

Depois de O Desconhecido do Lago, Alain Guiraudie refugia-se na sua zona de conforto com um filme sem destino nem garra.

Fotogaleria
Na Vertical passa o tempo a olhar para trás. Guiraudie já fez muito melhor
Fotogaleria
Fotogaleria

O Desconhecido do Lago (2013) parecia abrir novos caminhos ao cinema “de caminhada” de Alain Guiraudie, mas talvez o cineasta francês nunca tenha feito um filme tão desorientado como Na Vertical, que passa toda a sua duração à procura de si próprio sem verdadeiramente se encontrar.

Mais próximo, por exemplo, de O Rei da Evasão (2011) na sua viagem de descoberta, Na Vertical acompanha o percurso rural de Léo, um argumentista em fuga de si próprio que improvisa uma vida nova na província francesa, mas que dá por si forçado a recomeçar constantemente do zero face aos obstáculos que o destino lhe vai levantando, numa peculiar peregrinação sem objectivo que parece apenas ser motivada pela necessidade de expiar uma qualquer culpa que nunca se esclarece ao certo.

É isso que mais incomoda em Na Vertical, como se o próprio filme fosse um espelho da incapacidade de Guiraudie de decidir o que quer fazer ou para onde quer ir a seguir do “passo em frente” do Desconhecido do Lago; é um objecto sem destino, onde as peripécias nunca são suficientemente intrigantes ou trabalhadas para justificar o interesse do espectador em acompanhá-las.

A personagem de Léo, o argumentista à toa, não tem nada a que nos agarremos, o filme avança como um caranguejo que desse dois passos atrás por cada um em frente, fica-se por uma zona de conforto que não vai a lado nenhum — para uma história sobre enfrentar de peito feito as tormentas, Na Vertical é um filme que passa o tempo a olhar para trás. Guiraudie já fez muito melhor que isto.

i-video
Sugerir correcção
Comentar