Numa entrevista ao Guardian em 2005, Jem Cohen admitiu “detestar os filmes indie”. O que não é contraditório com a sua eleição como Herói Independente do IndieLisboa 2017. Entre 3 e 14 de Maio, a 14ª edição do festival lisboeta homenageará o cineasta americano que tem em carteira mais de 70 filmes, produzidos todos de forma independente no sentido mais puro e idiossincrático da expressão: seguindo a sua própria musa sem procurar agradar a gregos e a troianos nem perseguir um qualquer estatuto, rodando ao sabor da sua própria vontade e desejo. 

Cohen (n. 1962) será mais conhecido através do seu trabalho em telediscos para os R. E. M., Patti Smith, Miracle Legion, Sparklehorse ou Vic Chesnutt, mas manteve em paralelo uma prática artística cinematográfica apostada no resgate da memória, usando um vasto arquivo de imagens rodado ao longo dos anos, quer na Nova Iorque que é a sua base de trabalho, quer nas múltiplas viagens que tem feito. Não por acaso, o cineasta correspondeu-se durante anos com o falecido Chris Marker, a quem a sua mais recente longa, o filme-ensaio Counting (2015), é uma homenagem algo lateral; e inspirou-se no pensador Walter Benjamin para a média-metragem de 1996, Lost Book Found, sobre as paisagens em desaparecimento de Nova Iorque. 

Tanto Lost Book Found como Counting estão incluidos na retrospectiva do IndieLisboa, abarcando 13 curtas, médias e longas-metragens rodadas entre 1996 e 2016 – entre as quais Instrument (1999), o seu documento histórico sobre a lendária banda hardcore de Washington Fugazi, rodado ao longo de 11 anos, e o seu título mais conhecido e aclamado, Museum Hours (2012), filmado no Kunsthistorisches Museum de Viena com a cantora Mary Margaret O’Hara.

O festival lisboeta decorrerá este ano um pouco mais tarde do que é habitual, entre 3 e 14 de Maio, com a programação completa a ser anunciada no início de Abril, e os bilhetes a serem colocados à venda a 19 de Abril.