Com o parceiro que diz sempre “não” à primeira

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Adelino Gomes e Alfredo Cunha, juntos editaram Os Rapazes dos Tanques Joana Bourgard

Alfredo Cunha gosta de trabalhar em equipa. Com o antigo grande repórter do PÚBLICO Adelino Gomes, com quem travou amizade no lançamento do jornal, em 1990, já assinou três livros. Agora, tenta convencê-lo a embarcar em mais duas aventuras editoriais. “Ele comigo diz sempre ‘não’ à primeira.”

Vai escolher as 50 fotografias dos 50 anos de carreira sozinho?
Não, gostava de ter uma pessoa em quem confio ao meu lado. Por exemplo, alguém como o Adelino Gomes, que tem uma vantagem: não percebe nada de fotografia, mas percebe muito de jornalismo. Ele consegue dizer-me coisas óbvias. Às vezes vemos a árvore, mas não vemos a floresta. É engraçado que tenho aprendido muito de fotografia com o Adelino, que não percebe nada de técnica, nem tira fotografias. Há dias disse-me: “Acho que tu e o Luís Pedro Nunes [ex-jornalista do PÚBLICO e director do suplemento satírico Inimigo Público] deviam fazer um livro sobre a Guiné-Bissau, por isto, por isto e por isto”. Achei que tinha razão. E vamos fazê-lo.

O Adelino acertou.
Não é que tenha acertado, ele sabe. Ainda em relação à ajuda que tenho de ter para a escolha das minhas 50 fotografias, preciso de alguém muito experiente e que conheça muito bem o meu trabalho. Já falei nisso ao Adelino, mas ele comigo diz sempre “não” à primeira. Ele é muito rigoroso. Foi “um filme” fazer com ele Os Rapazes dos Tanques [Porto Editora, 2014].

Quem teve mais paciência com quem?
Os dois. A certa altura disse-lhe: “Adelino, vamos fazer um livro sobre o 25 de Abril”. E ele levantou-se e disse: “Nem penses! Estou farto de ti e do 25 de Abril! Não, não e não!” Mas eu disse-lhe: “E se fizéssemos um livro diferente?” E ele: “Diferente? Diferente como?” E eu: “E se descobríssemos um gajo importante de quem nunca se falou?”. E ele: “Mas como é que vamos descobrir um gajo de quem nunca ninguém falou?”. Descobrimos esse homem [o cabo apontador José Alves Costa, que desobedeceu às ordens de abrir fogo contra a coluna de Salgueiro Maia] e fizemos o livro. Mal ele sabe que já descobri outro com quem nunca ninguém falou, o major Pato Anselmo, que se rendeu, mas que não aderiu ao 25 de Abril. Nunca falou desse momento. Sei onde está. E, hoje, está disposto a falar.

Então, temos aí outro livro?
Não. Vamos acrescentar esta história ao Rapazes dos Tanques, quando se comemorarem os 45 anos do 25 de Abril. Vamos acrescentar mais um capítulo a essa história.

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