Universidades organizam-se para dar mais qualidade aos doutoramentos

Rede de escolas doutorais integra nove instituições, que vão ter um plano de formação em competências transversais comum.

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Programas doutorais das universidades passaram a incluir também aulas e seminários Daniel Rocha

Nove universidades vão trabalhar em conjunto para dar mais qualidade aos doutoramentos que oferecem. As universidades da Aveiro, Beira Interior, Évora, Madeira, Nova de Lisboa, Porto, Trás-os-Montes e Alto Douro, bem como o ISCTE - Instituto Universitário de Lisboa, assim como a Universidade Católica criaram a Rede Nacional de Escolas Doutorais, que vai ter formações com currículos integrados e permitir o intercâmbio de alunos, professores e funcionários.

O protocolo de constituição desta rede foi assinado na semana passada, em Évora. O documento define, por exemplo, que as nove instituições vão definir padrões de funcionamento no ensino dos programas doutorais em comum e desenvolver doutoramentos integrados, que podem ser apresentados conjuntamente ou em associação. O objectivo é o de “melhorar a qualidade dos programas de doutoramento”, explica o professor da Universidade de Évora, Soumodip Sarkar, que coordena a iniciativa.

O acordo prevê ainda a harmonização de normas entre as várias instituições no que toca à forma como decorrem as provas de doutoramento. Outra novidade é a implementação de um plano transversal às diferentes universidades que permitirá aos alunos de doutoramento terem formação em competências transversais, as chamadas “soft skills”.

A nova organização dos doutoramentos e também a sua massificação, na sequência do processo de Bolonha, mudou o perfil deste tipo de formação. De um trabalho mais individual e centrado quase exclusivamente na investigação, os programas doutorais das universidades passaram a incluir também aulas e seminários e conferências cada vez mais estruturados. Isto levou as universidades a criarem escolas doutorais que pudessem ajudar a implementar o novo modelo de doutoramentos.

“Havia algum cepticismo em relação às escolas doutorais e não existiam modelos de governação destas estruturas”, assume Sarkar. Esta análise levou aos primeiros contactos com outras universidades que têm escolas doutorais, resultando na criação de uma rede destinada “a aprender a partir de experiência de outras instituições”, diz o mesmo responsável.

No protocolo assinado entre as nove instituições está também previsto a possibilidade de os alunos de uma universidade frequentarem disciplinas que são apenas leccionadas numa outra escola doutoral, bem como intercâmbios de docentes e não docentes entre as várias instituições.

As universidades acreditam que desta forma passam também a ter uma voz mais activa junto da tutela e das instituições públicas do sector como a Direcção-Geral do Ensino Superior, a Agência de Avaliação e Acreditação do Ensino superior, além de ganharem escala para as candidaturas a financiamentos nacionais e internacionais a projectos ligados ao ensino.

Rede ibérica é o próximo passo

O acordo assinado pelas nove universidades prevê a possibilidade de, a qualquer momento, outras instituições de ensino superior aderirem à Rede Nacional de Escolas Doutorais. Esse é mesmo um passo visto como “desejável” por Soumodip Sarkar, que coordena a iniciativa. Nos últimos meses, decorreram conversações com outras universidades para integrarem o grupo fundador da rede, mas não surtiram efeito.

O grande objectivo de Sarkar é, no entanto, a criação de uma rede ibérica de escolas doutorais “ainda este ano”. Veio de Espanha a inspiração para esta maior articulação entre as várias escolas doutorais e o professor da Universidade de Évora vê agora numa articulação entre as várias escolas doutorais dos dois países ibéricos uma iniciativa com “muito mais potencial na partilha de conhecimento" e que  "incluiria maior número de experiências”.

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