A vida de Erdogan chega aos cinemas semanas antes de referendo

Filme retrata o Presidente da Turquia como um líder carismático com um sonho: transformar o país num lugar melhor e mais justo.

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D.R

Um rapaz a crescer nas ruas duras de Istambul, com uma postura séria e educada, ajudando os pobres quando pode, conhecido já pelos amigos como “o chefe”, e que depois se torna num adulto a lutar contra as forças que impedem a Turquia de se transformar num país melhor e mais justo. É esta a personagem retratada no filme sobre Recep Tayyip Erdogan que chjega nesta sexta-feira às salas de cinema turcas, precedendo em poucas semanas o referendo constitucional que visa alargar os poderes do líder turco.

Reis (O Chefe) parte da infância de Erdogan até à sua ascensão a presidente da câmara de Istambul, cargo que ocupou de 1994 a 1998. O adulto Recep é interpretado por Reha Beyuglu, que, em declarações à Reuters, nega qualquer tentativa de influenciar o referendo através do filme. O actor explica que se pretende apenas assinalar o 63.º aniversário do líder turco.

As reformas constitucionais que vão a votos no próximo dia 16 de Abril pretendem que o Presidente seja autorizado, por exemplo, a escolher ministros e responsáveis públicos de topo, dissolver o Parlamento, declarar o estado de emergência ou emitir decretos. Com detenções em massa a ocorrer por todo o país (no rescaldo da tentativa falhada de golpe de Estado em Julho do ano passado), os críticos de Erdogan alertam para um crescente culto de personalidade em torno de Erdogan.

Não se conhecem ainda os valores investidos para realizar o filme, que tem uma duração de 90 minutos, mas alguns órgãos de comunicação social turcos apontam para os oito milhões de dólares (cerca de 7,6 milhões de euros). Não se conhece também a origem do dinheiro investido. Sabe-se, no entanto, que uma empresa pouco conhecida, chamada Kafkasor Film Akademisi, foi a responsável pela produção.

Abrindo com uma cena em que se ouve na rádio o anúncio da execução do primeiro-ministro Adnan Menderes, depois do golpe de Estado em 1960, o filme acompanha o crescimento de Erdogan enquanto este assiste às brutalidades que preenchiam a Turquia dos anos 1960. O Presidente turco revelou já por várias vezes a sua admiração por Menderes.

Na vida adulta, destacam-se as provações por que passou o homem carismático que começava a desbravar caminho até ao poder. Repetidamente ameaçado pelas autoridades durante os anos 1990, quatro anos antes de pegar no leme do país, em 1999, Erdogan é preso por recitar um poema islâmico durante um discurso. “Uma pessoa vai acabar por morrer. Se vamos morrer, morreremos como homens”, diz “o chefe” a certa altura no filme, uma afirmação que utilizou repetidamente em discursos.

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