Já durante a II Guerra Mundial, como a série documental Five Came Back vai mostrar no final deste mês no Netflix, existia um esforço concertado de associar o cinema americano à propaganda, recrutando mestres como John Ford ou Frank Capra, à imagem do que começara a ser feito na I Guerra. Mas só em 2012 foi produzida Act of Valor, a primeira longa-metragem de recrutamento do Pentágono para cativar potenciais Navy Seals (fuzileiros). Realizada por um colectivo de realizadores conhecido como Banditos, tem argumento de Kurt Johnstad (do filme 300) e centra-se na perseguição de uma célula terrorista de russos, mexicanos, filipinos e muçulmanos.

A produção própria, porém, não é a mais visível das ligações entre a Defesa norte-americana e o cinema e a televisão. O Pentágono tem uma actividade muito mais profícua através da negociação de presenças em filmes dos grandes estúdios.

O Film Liaison Office, como escreveu o Huffington Post, “é uma das forças mais poderosas do negócio do cinema” actual — tem adereços reais e milionários (aviões, submarinos, bases militares, porta-aviões) e objectivos propagandísticos. É um departamento do Pentágono que se dedica precisamente às relações institucionais entre os vários braços da Defesa dos EUA e Hollywood e uma das histórias mais famosas dessas relações é a da longa troca de correspondência e de tentativas de acordo com Francis Ford Coppola para usar os helicópteros do Exército dos EUA em Apocalypse Now. Coppola não terá cedido a algumas exigências sobre o teor do guião e o Departamento de Defesa também não.

Existem vários exemplos, como o do blockbuster Transformers, em que as negociações foram bem sucedidas — é um de dezenas de filmes em que o director do Film Liaison Office, Phil Strub, surge nos créditos finais. Agências como a CIA, o FBI ou todos os ramos da Defesa americana têm também um gabinete de ligação com a indústria do audiovisual.