Os bancos, o “bom crédito” e a economia circular

No conceito de economia circular existe a convicção de que os produtos não se convertam em desperdício mas que sejam reutilizados ou consumidos antes que sejam devolvidos à biosfera de modo seguro e produtivo. Desta forma, estaremos também a gerar mais crescimento económico e novos empregos.

Em 1992, representantes dos governos de 172 países reuniram-se na Conferência da Terra (Earth Summit), no Rio de Janeiro. Desta conferência resultaram cinco documentos importantes, a Agenda 21, a Declaração do Rio sobre Ambiente e Desenvolvimento, a Convenção das Nações Unidas sobre a Diversidade Biológica, a Declaração dos Princípios das Florestas e a Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre as Alterações Climáticas (UNFCCC). Esta última radicou no objectivo de estabilizar a concentração de gases com efeito de estufa na atmosfera, estabelecendo o clima mundial como um recurso partilhado por todos.

Os princípios inerentes à protecção do ambiente e à oportunidade de se poderem valorizar os produtos considerados “lixo” foi tomando crescentemente consciência mundial e, principalmente, nos países mais desenvolvidos e com responsabilidade social mais acentuada, foram-se desenvolvendo negócios relacionados com toda a problemática ambiental numa relação de sã convivência entre a indústria e o meio ambiente.

Vários autores têm chegado à conclusão que o crescimento económico em modelo linear e a escassez de recursos estão em rota de colisão. Numa análise histórica, verificamos que a correlação entre PIB e utilização de recursos é de 0,4 % por cada unidade percentual de crescimento do primeiro o que quer dizer que o crescimento populacional e o desenvolvimento económico são os principais factores da procura de recursos.

Os compromissos firmados em diversos fóruns a nível mundial vieram implementar medidas de aumento de eficiência sobre a cadeia de valor tradicional e, o que constituía um fardo pesado de desperdício, as empresas começaram a dotar tecnologia para a reutilização de subprodutos ou mesmo a incorporação em produtos de valor acrescentado de outputs que constituíam problemas ambientais e mesmo sociais. No entanto, ainda subsistem vastas quantidades de desperdícios que são depositados em aterros ou incinerados, destruindo valor gerado em etapas anteriores na linha de produção.

É neste enquadramento que surge o conceito de Economia Circular que fecha os circuitos na cadeia maximizando o valor desejavelmente superior ao capturado pela reciclagem. A economia circular está na ordem do dia e no conceito existe a convicção de que os produtos não se convertam em desperdício mas que sejam reutilizados ou consumidos antes que sejam devolvidos à biosfera de modo seguro e produtivo. Desta forma, estaremos também a gerar mais crescimento económico e novos empregos.

No grupo Credito Agrícola, os princípios da economia circular estão bem vincados no seu modelo e fazem parte do seu “ADN”. Se pensarmos que o grupo possui 675 balcões descentralizados pelas diversas localidades do interior e que 50% dos seus mais de 4.200 empregados vivem a menos de 10 quilómetros do trabalho e 9% fazem o percurso a pé para o trabalho estamos a falar de uma dimensão de sustentabilidade pouco vulgar no sistema bancário nacional.

A nossa visão é de que o sistema bancário deve contribuir para o crescimento da economia circular, proporcionando condições privilegiadas a projectos que garantam os seus princípios. Os analistas de risco de crédito devem incorporar nos seus modelos de análise a preocupação de garantir o cumprimento de regras relacionadas com os princípios da circularização.

Os princípios da economia circular deverão estar presentes na gestão de risco bancário e fazer destes uma alavanca para o crescimento de boas carteiras de crédito.

 

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