Desconfiança entre Norte e Sul provoca impasse na zona euro

Portugal está entre os países que defendem que, sem mais investimento e partilha de risco a nível europeu, não é possível os países garantirem a convergência.

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Países mediterrânicos vão encontrar-se este sábado em Lisboa Reuters/MICHALIS KARAGIANNIS

Quem avança primeiro? Os países menos competitivos e endividados do Sul, fazendo as reformas estruturais que lhes são pedidas? Ou os países credores do Norte, aceitando partilhar de forma mais completa o risco da dívida acumulada pelos outros parceiros? É na resposta a esta questão que reside a grande divergência entre os denominados “países do Sul”, que realizam este sábado uma cimeira em Lisboa, e os “países do Norte”, liderados pela maior economia da zona euro, a Alemanha.

Depois de, no auge da crise, normalmente durante a madrugada do último dia de uma cimeira de emergência, os países da zona euro terem tomado medidas destinadas a tornar mais segura a união monetária (como a criação do Mecanismo de Estabilização de Emergência ou a passagem da supervisão bancária para o BCE), tem-se assistido nos últimos anos a um impasse, em que os países do euro não conseguem dar novos passos nos caminhos a dar.

Entre aqueles que acreditam nos benefícios da moeda única, tanto a Norte como a Sul, acredita-se que, para o euro resultar, será preciso reforçar a união, avançando para um Tesouro comum, uma maior partilha de riscos e uma união bancária completa, por exemplo. O problema é que nenhum dos lados está disposto a avançar primeiro.

Entre os países do Norte, a desconfiança impera em relação à capacidade dos países do Sul para adoptarem as políticas que são consideradas pelos primeiros como fundamentais. E por isso defende-se que em primeiro lugar se façam reformas estruturais e se consolidem os orçamentos e só depois podem surgir soluções como as emissões conjuntas de dívida na zona euro.

A Sul, a ideia predominante é que, nas actuais circunstâncias de forte endividamento e de desemprego elevado, se torna impossível realizar sem um custo social demasiado pesado as denominadas reformas estruturais e a consolidação orçamental. É preciso, através de uma partilha de riscos a nível europeu, aliviar os constrangimentos financeiros dos países, para estes poderem actuar. Só assim, defendem, se pode garantir a convergência e salvar o euro.

São estes os argumentos que deverão dominar a cimeira deste sábado entre os países do Sul, que servirá para tentar encontrar uma posição comum para o conselho de Roma a realizar em Março e que irá discutir reformas na UE. Embora em graus diferentes, os países presentes em Lisboa defendem estes argumentos, sendo a Espanha a mais reticente. O governo liderado por Mariano Rajoy tem sido até o país mais vezes apresentado a Norte como prova de que as reformas estruturais resultam.

Do lado português a ideia que tem sido defendida é a de que as reformas apenas podem ser bem sucedidas se acontecerem em simultâneo com mudanças a nível europeu. Num seminário realizado esta semana, António Costa defendeu um reforço do investimento a nível europeu, um aumento da capacidade orçamental da zona euro por via da emissão de dívida conjunta e de novos impostos e o fim da lógica de sanções na aplicação das condições para os países serem ajudados.

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