“Ajude Novas Famílias a Nascer” é o mote da nova campanha para doação de gâmetas

Campanha de sensibilização visa aumentar a doação de gâmetas. Ministro da Saúde lembrou que “cumpre ao Estado garantir” que todas as pessoas tenham direito a construir a sua família.

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Protocolo prevê um pólo em Lisboa e outro no Porto para a colheita de gâmetas NELSON GARRIDO

As palavras saem-lhes com lágrimas: “Conseguimos realizar o nosso sonho”. Nuno e Fátima Araújo são pais de uma menina de três anos – quase quatro - e preparam-se para o ser novamente, mas desta vez de gémeos: um menino e uma menina. Foi em 2012 que fizeram o primeiro tratamento, depois de sete anos sem conseguirem ter filhos. No caso destes pais a doação foi de ovócitos. Quando iniciaram os tratamentos, a “lista de espera no banco público de gâmetas era grande e desmotivante para quem estava numa luta de sete anos”, daí não terem conseguido fazer lá os primeiros tratamentos, conta Fátima Araújo.

O casal contou esta quarta-feira a sua história na apresentação da nova campanha de sensibilização para a doação de espermatozóides e ovócitos, no Ministério da Saúde, em Lisboa. A procura é muita para os poucos gâmetas femininos e masculinos que existem, disse aos jornalistas o secretário de Estado Adjunto e da Saúde, Fernando Araújo, que reforçou a importância desta campanha para sensibilizar as pessoas para esta situação.

O problema agrava-se agora com o alargamento da lei que permite, actualmente, a casais de lésbicas e mulheres solteiras fazerem também estes tratamentos. Anteriormente só os casais heterossexuais é que tinham direito. Isto provocou um “aumento da lista de espera”, que já é “longa no caso de mulheres solteiras” e de 200 casais, informou o secretário de Estado.

Colheita em Lisboa e no Porto

A presidente do Centro Hospitalar de Lisboa Central, Ana Escoval, afirmou que é uma “obrigação do Serviço Nacional de Saúde” dar oportunidade às mulheres e casais que queiram construir uma família e que o hospital vai tornar isso “numa realidade”, com o protocolo assinado esta quarta-feira, antes da apresentação do vídeo que será o rosto da nova campanha.

“Responder ao sonho das pessoas e rejuvenescer as pessoas” é a missão a que se propõe Ana Escoval com a criação do novo pólo de colheita de gâmetas no Centro Hospitalar de Lisboa. Também será criado outro no Porto. Para o ministro da Saúde, Adalberto Campos Fernandes, é “o fim de uma limitação” para a doação. O ministro lembrou que “cumpre ao Estado garantir” que todas as pessoas tenham direito a construir a sua família, num “país que tem uma urgente necessidade de se tornar jovem” e por isso não se pode excluir ninguém.

“Nos últimos cinco anos houve 164 potenciais dadores de gâmetas femininos e 158 potenciais dadores masculinos resultando em 41 dadores femininos efectivos e 28 dadores masculinos efectivos”, informou Paulo Barbosa, presidente do Centro Hospitalar do Porto. “Estes resultados reflectem bem a necessidade do alargamento e do envolvimento de estruturas, como a Direcção Geral de Saúde e das associações, e que estas campanhas surtam efeito”, reforçou.

Em 2011 já tinha sido feita uma campanha de sensibilização com cartazes e panfletos que não teve o resultado pretendido. Agora, a aposta é em caras “conhecidas”, como os apresentadores Rita Ferro Rodrigues - também presidente da Associação CAPAZES -, João Paulo Sousa, Tânia Ribas de Oliveira e o judoca Nuno Delgado, numa campanha a nível nacional, que drará um ano e duas a nível regional. Rita Ferro Rodrigues, que marcou presença no lançamento, reforçou a urgência da doação de gâmetas. “Sabemos que agora as necessidades de gâmetas são ainda maiores e queremos que Portugal acompanhe os países desenvolvidos na questão dos dadores e que as portuguesas e os portugueses percebam que, da mesma maneira que nos orgulhamos de ser dadores de sangue ou de medula, também nos temos de orgulhar de participar neste banco, para que nasçam novas famílias”.

O secretário de Estado Adjunto e da Saúde afirmou que o valor das compensações continuará a rondar os 278 euros para os homens e 620 para as mulheres, no máximo. O valor das primeiras consultas manterá o mesmo valor 88 euros e a variação do preço dos tratamentos também não se vai alterar: 133 euros, quando se recorre apenas a uma indução ovárica, até aos 2937 euros, quando é necessária uma micro-injecção intracitoplasmática. 

Texto editado por Pedro Sales Dias

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