O médico-gestor que foi escolhido por ministros do PSD e do PS

Especialista em imunohemoterapia esteve no INEM, na ARS de Lisboa e Vale do Tejo e iria voltar ao lugar de origem no Hospital de São João, no Porto.

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FERNANDO VELUDO / PUBLICO

É um resistente. Luís Cunha Ribeiro, 61 anos, sobreviveu à mudança de vários Governos e foi o escolhido por governantes tanto do PSD como do PS para cargos de grande responsabilidade.  Especialista em imunohemoterapia, o médico que nasceu em Lamego começou a sua carreira no Hospital de S. João, no Porto, onde foi director do serviço de sangue e, posteriomente, director clínico, antes de se mudar para Lisboa.

Nomeado presidente do Instituto Nacional de Emergência Médica (INEM) em 2003 pelo então ministro da saúde do PSD Luís Filipe Pereira, manteve-se firme no cargo, apesar da mudança de Governo. Com o ministro da Saúde do PS que se seguiu, António Correia de Campos, permaneceu à frente do INEM, de onde apenas acabou por sair em 2008, na ressaca da crise do fecho de vários serviços de urgência. Uma crise que começou por levar à saída do próprio Correia de Campos. “A confusão estava instalada. Para tentar acalmar a situação, achei que o devia substituir no INEM”, recorda Ana Jorge, a médica que sucedeu a Correia de Campos no Ministério da Saúde e que recorda Cunha Ribeiro como “uma pessoa simpática e charmosa”, mas mais indicada, no seu entender, para um “trabalho de relações públicas”.

Recrutou médicos no estrangeiro

Características que lhe terão valido o cargo seguinte. “Achei que era uma pessoa com qualidades para andar a prospectar e a recrutar médicos no estrangeiro”, explica o ex-secretário de Estado adjunto da Saúde Manuel Pizarro, que, alguns meses depois da saída de Cunha Ribeiro do INEM, decidiu contratá-lo para o assessorar nesta matéria. Andou então por Cuba, Colômbia e Uruguai a fazer contactos para a vinda de médicos para Portugal, ao longo de três anos. “Tinha experiência de gestão e aceitou fazer este trabalho só com o salário de origem”, recorda Pizarro, que diz que ele conseguiu montar um sistema de recrutamento e trouxe cerca de 150 médicos estrangeiros que foram trabalhar para regiões carenciadas, como o Alentejo e o Algarve.

O Governo voltou entretanto a mudar, o Ministério da Saúde passou para as mãos de Paulo Macedo, e Cunha Ribeiro foi convidado então para dirigir a Administração Regional de Saúde (ARS) de Lisboa e Vale do Tejo, cargo que lhe valeu muitas críticas, sobretudo quando reorganizou a urgência metropolitana de Lisboa e pretendeu encerrar a Maternidade Alfredo da Costa.

O bastonário da Ordem dos Médicos, José Manuel Silva, chegou a pedir a Paulo Macedo que demitisse Cunha Ribeiro, mas por uma razão não relacionada com a ARS de Lisboa e Vale do Tejo. Fê-lo quando o médico “se recusou a mostrar o contrato de arrendamento” do apartamento em que vivia, o mesmo prédio em que residia José Sócrates, e que era de uma sociedade de Paulo Lalanda e Castro, administrador da Octapharma Portugal.

Cunha Ribeiro não foi demitido por esse motivo, mas não conseguiu resistir ao caso da morte de David Duarte, jovem que não sobreviveu à ruptura de um aneurisma cerebral no Hospital de S. José, enquanto aguardava por uma cirurgia que apenas podia ser realizada por uma equipa especializada. Deixou a ARS de Lisboa e Vale do Tejo há um ano e, segundo diz Manuel Pizarro, esteve a gozar férias enquanto se preparava para regressar ao seu lugar de origem, o Hospital de S. João.

"Foi o melhor presidente que o INEM teve, tirou-o da penumbra e transformou-o numa instituição com capacidade de resposta a nível nacional", defende Miguel Oliveira, que trabalhou com ele no Hospital de S. João, no INEM e na ARS de Lisboa e Vale do Tejo. "Pode ter um feitio difícil, arrogante, mas, como amigo e como líder, é do melhor que há", descreve.

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