“Hoje em dia não há nenhuma dificuldade em conceder crédito às empresas”

O líder da Associação Portuguesa de Bancos (APB) “passa a bola” para o lado das empresas. A banca tem liquidez, até em excesso, e quer dar crédito às empresas, mas estas precisam de reduzir o seu nível de endividamento para passar nos critérios de risco de crédito.

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Sector empresarial precisa de reforçar os seus capitais, afirma Faria de Oliveira. Rui Gaudencio

Os bancos estão prontos para dar crédito às empresas, desde que estas estejam em condições de cumprir os critérios de risco de crédito, assegura Faria de Oliveira.

Já há condições para que os bancos voltem a dar crédito às empresas ou é uma falsa questão?

O problema do financiamento à economia tem de ser olhado do lado da oferta e do lado da procura. E conforme é bem notório em três recentes estudos, um do Instituto Nacional de Estatística (INE), outro do Banco Central Europeu (BCE) e outro da Comissão Europeia, não é o acesso ao crédito que constitui, neste momento, em Portugal uma preocupação relevante por parte das empresas produtivas.

Qual é então o problema?
Numa primeira fase, a desalavancagem da banca conduziu a que o acesso ao crédito se tivesse tornado mais difícil. Depois passou-se o período de uma fortíssima recessão em que o Produto Interno Bruto (PIB) caiu 7,3% em três anos, entre 2010 e 2013, e com isto o crescimento do endividamento das empresas atingiu o seu limite e levou a um aumento brutal do incumprimento. Depois, com a entrada em vigor da União Bancária também se reforçaram enormemente os mecanismos de avaliação de risco. Mas entretanto desapareceu por parte dos bancos o problema fundamental, que é o problema da liquidez. Os bancos têm neste momento conforto total em termos de liquidez, excesso de liquidez. E faz parte da sua actividade a concessão de crédito como a fonte principal dos seus proveitos. Portanto, para melhorar a rentabilidade, os bancos têm mesmo de conceder crédito e não há nenhuma dificuldade hoje em dia em conceder crédito às empresas que tenham condições de acesso ao crédito, que passem o crivo de risco de crédito.

É, então, um problema das empresas?
Temos de trabalhar em duas frentes: sem dúvida que o sistema bancário necessitou de desalavancagem e recapitalização. Uma grande parte deste trabalho está feito, ainda falta completá-lo, mas está feito. Mas o sector empresarial precisa exactamente dos mesmos dois objectivos: desendividar-se, desalavancar e reforçar os seus capitais. Isso facilitaria sem dúvida o acesso ao crédito e o sistema bancário é o primeiro interessado em que isso aconteça. O programa Recapitalizar vai seguramente dar alguns contributos para a tentativa de resolução de um problema, que é um problema de fundo da economia nacional. Diria mesmo que é o problema mais importante da economia nacional.

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