A validade da luta de classes e a derrota do PSD-CDS

O papel de vanguarda dos trabalhadores permanece actual para o PCP. Daí que as reivindicações laborais sejam uma prioridade.

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“Há classes exploradas e classes exploradoras”, defende Jorge Cordeiro DR

A ideia de que os entendimentos à esquerda motivaram uma paz social que domesticou os sindicatos é desmentida por Jorge Cordeiro, membro da comissão política, que afirma ao PÚBLICO: “Não creio que a ideia de que a luta tenha sido congelada corresponda [à realidade].” E refere que, nos seus comunicados, o comité central do PCP tem citado “um número muito significativo de lutas em empresas e sectores que não têm visibilidade pública”, mas que demonstram que as reivindicações dos trabalhadores “não são desprezíveis ao longo de 2016”.

A importância de que os trabalhadores defendam e lutem pelos seus direitos é central nas concepções sobre trabalho político do PCP. Cordeiro sustenta que, “mesmo que não se vejam os resultados, os últimos quatro anos mostraram o papel determinante da luta da classe operária e dos trabalhadores”. E prossegue afirmando que, “mesmo quando parecia que esbarrava na parede da maioria de direita”, esta resistência “valeu para suster, a cada momento”, os ataques aos direitos dos trabalhadores e “valeu pela erosão política” do Governo PSD-CDS e pela “transformação eleitoral em Outubro” que possibilitou, dando “sequência à luta dos trabalhadores”.

Cordeiro defende que “a luta é um factor de transformação em quaisquer circunstâncias” e repete uma frase que o secretário-geral do PCP, Jerónimo de Sousa, costuma usar: “Lutando nem sempre se ganha, mas quem não luta perde sempre.” Daí que, frisa Cordeiro, na actual situação de entendimento à esquerda, “não subestimando a intervenção parlamentar”, o PCP tem “consciência de que o factor determinante para novos avanços é inseparável da luta”. E avisa: “Que ninguém fique à espera de respostas, se resultarem apenas do quadro de intervenção na Assembleia da República.”

Esta valorização que o PCP faz das lutas dos trabalhadores está enraizada na sua ideologia política e na visão da sociedade que assentam na luta de classes. “Se renunciássemos à visão objectiva de que a sociedade se divide em classes — por mais distorcidas que sejam hoje, por exemplo, transformando trabalhadores em colaboradores —, renunciávamos à nossa natureza ideológica. Somos um partido marxista-leninista, reconhecemos o materialismo histórico”, diz Cordeiro.

O dirigente comunista defende que “a luta de classes não é uma invenção, é a realidade”, uma vez que “há quem se aproprie da mais-valia realizada e quem produza essa mais--valia”. Admite que “hoje a vivência não é igual à da primeira metade do século XX”. E reconhece que a “expressão da luta de classes hoje é diversa”, até fruto das “transformações da sociedade” para as quais, garante, “contribuiu a revolução socialista, que forçou a conquista de direitos”. Mas isso, no entender deste dirigente comunista, não nega que “há classes exploradas e classes exploradoras”, pelo que “renunciar a isso seria renunciar ao elemento estruturante da transformação social”.

Cordeiro conclui salientando o papel de vanguarda que o PCP reconhece aos trabalhadores: “É uma relativa evidência que, na luta de resistência e de transformação, os trabalhadores têm papel indispensável de vanguarda, tão mais decisivo quanto forem capazes de responder a interesses de outras camadas que se revêem nessa intervenção da classe operária e dos trabalhadores.” Um papel que é reconhecido no ponto 1.3.2. das Teses: “A luta da classe operária e dos trabalhadores é o mais importante factor de resistência, reivindicação e avanço, contribuindo de forma decisiva para a convergência de outras classes e camadas antimonopolistas.”

 

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