"Terramoto" e "impensável". O que dizem os jornais sobre a vitória de Trump

O mundo tenta explicar a inesperada vitória de Trump. Assim como os jornais. No entanto, os editoriais de alguns dos mais importantes jornais internacionais reflectem ainda a incompreensão que reina neste momento.

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Reuters/SHANNON STAPLETON

Enquanto o mundo entra em discussões para descodificar a vitória de Donald Trump nas eleições presidenciais americanas, os jornais internacionais, e especialmente os dos EUA, publicam a sua visão, através dos respectivos editoriais.

A grande maioria declarou apoio a Hillary Clinton, evocando quase uma mobilização nacional para evitar a chegada de Trump à Casa Branca. Falharam, e muitos reflectem isso mesmo na sua posição editorial:

New York Times

“Presidente Donald Trump. Três palavras que eram impensáveis para dezenas de milhões de americanos – e para grande parte do resto do mundo – tornaram-se agora o futuro dos Estados Unidos.

Tendo confundido as elites republicanas nas primárias, Trump fez o mesmo com os democratas nas eleições gerais, repetindo o golpe de judo de alterar o peso de um establishment complacente contra ele. A sua vitória é um golpe humilhante para os meios de comunicação, para os centros de sondagens e para a liderança democrata dominada pelos Clinton. (…)

Então quem é o homem que será o 45.º Presidente? Depois de um ano e meio de tweets e discursos errantes não podemos ter certeza. (…) Eis o que sabemos: sabemos que Trump é o Presidente eleito menos preparado da história moderna. (…)

A misoginia e o racismo desempenharam o seu papel na sua ascensão, mas também foram responsáveis por essa ascensão o desejo feroz e até mesmo descuidado pela mudança.

Essa mudança colocou agora os Estados Unidos perto de um precipício.”

Washington Post

“Donald Trump foi eleito o 45.º Presidente dos Estados Unidos esta terça-feira. Estas são palavras que esperávamos nunca escrever. (…)

Ao longo da campanha, Trump falou em prender Clinton, processar mulheres que o acusavam de avanços sexuais indesejados, neutralizar o presidente da Câmara dos Representantes e revogar as liberdades da imprensa. (…) Prometeu deportar milhões, rasgar acordos comerciais, aplicar testes religiosos e sabotar os esforços internacionais para combater as mudanças climáticas, cada um dos quais que vai prejudicar muita gente.

Se ele tentar agir de acordo com estas metas e inclinações, outros devem reunir-se para defender os princípios constitucionais. (…)

Os americanos não são nem nunca foram unidos pelo sangue ou pelo credo, mas pela lealdade a um sistema democrático de Governo que partilha o poder, valoriza o Estado de Direito e respeita a dignidade dos indivíduos. Esperamos que nosso recém-eleito Presidente mostre respeito por esse sistema. Os americanos devem estar prontos a apoiá-lo se ele o fizer, e a apoiar o sistema quer ele o faça quer não”.

Wall Street Journal

“A improvável vitória de Donald Trump sobre Hillary Clinton é um terramoto político de um tipo que raramente perturba a política americana (…)

Se a eleição de Trump é, apesar de tudo, um momento de intensa incerteza, os eleitores compreenderam a escolha, e o seu julgamento não pode ser descartado como um mero acaso de um ano eleitoral pouco convencional e amargo. Trump pode congratular-se por ter olhado para todos os cantos e ter descoberto oportunidades políticas onde muito poucos viram. (…)

Populismos como o de Trump não são incomuns na história americana, mas raramente essas tendências obtêm poder real. As próximas semanas e meses não são um mero teste a Trump como gestor e líder, mas também à força da separação federalista de poderes e à tradição americana de uma transição pacífica entre administrações de partidos ferozmente divididos.

Na segunda tomada de posse de Lincoln, em 1865, ele apelou aos seus “compatriotas” para que trabalhassem pela reconciliação e paz doméstica, “sem malícia contra ninguém, com caridade por todos”. Estas palavras parecem particularmente gratificantes depois de uma longa noite como a de terça-feira”.

The Guardian

“O impensável só é impensável até que acontece. Assim, como a conquista de Roma, pode parecer historicamente inevitável. Assim o é com o terramoto político internacional que é a eleição de Donald Trump como próximo Presidente dos EUA. Se ele for fiel às promessas da sua campanha, que foram muitas e imprudentes, a vitória de Trump vai anunciar ser a mais impressionante inversão da ortodoxa política e económica desde o New Deal nos anos 1930, mas com a intenção e o efeito opostos. (…)

A vitória de Trump significa incerteza sobre a estratégia futura da América num mundo que há muito confia nos EUA para a estabilidade. Mas a capacidade de destabilização de Trump é quase ilimitada. As suas políticas militares, diplomáticas, de segurança, ambientais e comerciais têm a capacidade de mudar o mundo para pior. Os americanos fizeram uma coisa muito perigosa esta semana. Por causa do que fizeram enfrentamos tempos sombrios, incertos e temerosos.

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