Da “Liga Atlântica” à tentação que vem da China

A hipótese de ser criada uma competição para rivalizar com as provas organizadas pela UEFA tem vindo a ganhar força. Há clubes que já estão a discutir a ideia, incluindo emblemas com títulos europeus. E também há um gigante chinês com planos (e meios) para construir um império desportivo

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Miguel Vidal/Reuters

Há muito que circulam projectos de novas competições de futebol, seja de âmbito europeu ou que vão além das fronteiras do continente. Mas a discussão ganhou nova actualidade com a reforma anunciada pela UEFA para as provas europeias e já houve avanços por parte de clubes que estarão entre os prejudicados do novo formato de acesso. Ao atribuir quatro lugares de entrada directa na fase de grupos da Liga dos Campeões, a UEFA estará a restringir as vagas disponíveis para os campeonatos de média e pequena dimensão. “O acesso às competições europeias ficará seriamente limitado para determinados países. Não podemos censurar os clubes e as ligas por avaliarem as suas opções”, admitiu ao PÚBLICO o director da Liga dinamarquesa, Claus Thomsen.

A mais recente iniciativa partiu precisamente do campeão dinamarquês em título, o FC Copenhaga (adversário do FC Porto no Grupo G da Champions). O emblema da capital esteve em contacto com outros clubes escandinavos (Malmö, da Suécia, e Rosenborg, da Noruega), holandeses (Ajax, que tem quatro títulos de campeão europeu, PSV Eindhoven e Feyenoord, com um título cada), belgas (Club Brugge e Anderlecht) e escoceses (Celtic, campeão europeu em 1967, e Rangers) para discutir a possibilidade de formar uma mini-competição internacional, provisoriamente denominada como “Liga Atlântica”, como forma de contrariar a influência crescente das grandes ligas nas provas da UEFA.

“Acho que é uma má solução. Mas um clube da dimensão do FC Copenhaga, numa liga como a dinamarquesa, ou um clube como o Celtic na Liga escocesa, deparam-se com um futuro em que tudo aponta para que as competições europeias sejam mais fechadas... É natural que queiram avaliar as opções à sua disposição”, disse Claus Thomsen, crítico da reforma anunciada pela UEFA: “Deviam ser feitas poucas ou nenhuma mudança. Reconheço que após 20 anos com o mesmo formato seja necessário um desenvolvimento, mas não pode ser feito à custa dos clubes médios e pequenos.”

As movimentações, porém, não se limitam à Europa. A Oriente há um gigante que quer ter uma palavra a dizer no futuro do futebol mundial. A China quer crescer na modalidade e o Wanda Group tem planos (e meios) para construir um império desportivo que inclui as competições europeias. Fundado por Wang Jianlin, o homem mais rico da China (cuja fortuna está avaliada em mais de 26.000 milhões de euros), o conglomerado multinacional detém 20% do Atlético de Madrid e no ano passado adquiriu por cerca de 1100 milhões de euros a Infront Media, uma empresa suíça liderada por Philippe Blatter (sobrinho de Joseph Blatter, o ex-presidente da FIFA) que negoceia direitos televisivos de grandes eventos desportivos.

O Wanda Group não respondeu aos pedidos de contacto do PÚBLICO. “Tem de haver um futuro com maior liberdade, baseado nas necessidades dos clubes e das ligas e em que a decisão lhes cabe”, sublinhava ao Financial Times, em Julho, o director estratégico do grupo, Marco Bogarelli. “O nosso interesse pela proposta [do Wanda Group] tem vindo a crescer desde que a UEFA anunciou que vai reformar a Liga dos Campeões sem fazer uma concertação ampla e detalhada com as ligas”, admitiu em Setembro, ao mesmo jornal, o presidente da Liga espanhola, Javier Tebas.

O conceito passaria por fundir a Liga dos Campeões e a Liga Europa, numa nova competição que teria mais do que as 32 equipas da fase de grupos da Champions mas menos de 64, com um mínimo de seis lugares garantidos para as cinco maiores ligas europeias (Inglaterra, Alemanha, Espanha, Itália e França). “A ideia de unir as duas provas não é má. O que fica claro é que temos de construir algo com a participação de todas as ligas europeias e a UEFA não está a fazê-lo”, frisou Tebas.

A UEFA tem optado por desvalorizar o cenário de uma nova competição surgir no futebol europeu. “Não é a primeira vez que se especula sobre uma nova prova e provavelmente não será a única. Quando tomamos qualquer decisão temos em consideração não só os prémios financeiros para os clubes, mas também o bem maior para o futebol e o seu desenvolvimento em todo o continente”, salientava em Julho, ao Financial Times, o então secretário-geral interino da UEFA, Theodore Theodoridis.

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