A vantagem de Trump é estar mal preparado para a Casa Branca

Os apoiantes de Trump não surgiram do nada só porque lhes apareceu à frente uma figura conhecida com um penteado de gosto discutível; e não é apenas a sua imagem de homem de negócios de sucesso, igualmente discutível, que lhe garantiu juras de amor eterno pelo menos até ao dia 8 de Novembro.

Vamos pôr de lado as preferências de cada um e aceitar o óbvio: por mais nomes que se chamem ao candidato à Presidência dos Estados Unidos pelo Partido Republicano para além de "Donald Trump", as sondagens não estão metidas em nenhuma grande conspiração: o homem que tem sido ridicularizado por meio mundo chegou a um mês das eleições para a Casa Branca (são a 8 de Novembro) politicamente vivo, quando poucos lhe adivinhavam uma vida para além do défice de atenção.

É difícil passar por cima das suas declarações, que algumas vezes roçam a loucura e outras ficam-se pela incompreensão, quando muda de um assunto para outro sem qualquer ligação ou lógica aparente. É difícil fechar os olhos à torrente de tweets inflamados, às ofensas pessoais – àquilo a que o candidato e muitos dos seus apoiantes chamam "politicamente incorrecto". Mas talvez esteja mais do que na hora de tentar compreender o fenómeno: Trump não é o candidato mais preparado da História da política norte-americana, e o seu trunfo é precisamente esse.

Os milhões de apoiantes de Trump não surgiram do nada só porque lhes apareceu à frente uma figura conhecida com um penteado de gosto discutível; e não é apenas a sua imagem de homem de negócios de sucesso, igualmente discutível, que lhe garantiu juras de amor eterno pelo menos até ao dia 8 de Novembro de 2016.

Durante anos, milhões de norte-americanos descontentes foram votando nos candidatos dos dois principais partidos porque era assim que tinha de ser – quem era mais conservador votava no Partido Republicano, quem era mais progressista ou menos conservador votava no Partido Democrata.

Mas, no ano passado, as preces desses eleitores foram ouvidas: Donald Trump caiu-lhes do céu aos trambolhões e a liderança do Partido Republicano encolheu os ombros, antes de se ter apercebido, tarde demais, que encolher os ombros e escancarar uma porta é a mesma coisa dita por outras palavras. Para esses eleitores, Trump não é um ponto de partida, mas sim um ponto de chegada – é o homem que emergiu de um caldeirão onde se foi cozinhando em lume brando uma receita feita de globalização rápida demais para as suas vidas; de um caminho para leis progressistas mais curto do que esperavam; e, acima de tudo, de um fórum praticamente limitado ao frenesim das redes sociais.

Hillary Clinton tem passado a esmagadora maioria do tempo no topo das sondagens, e continua a ser a melhor aposta para ocupar a Casa Branca depois de Barack Obama. Mas o seu futuro (e o futuro dos Estados Unidos e do resto do mundo) ficou marcado pela emergência de um novo partido – o Partido de Trump e dos seus apoiantes, dentro ou fora do Partido Republicano.

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