Três perguntas a Jason Marczak

O referendo ao acordo de paz da Colômbia visto pelo director do programa de crescimento económico do Centro Latino-Americano Adrienne Arsht do Atlantic Council, em Washington

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Jason Marczak, do Atlantic Council DR

Como se explica a reviravolta eleitoral, quando as sondagens repetidamente apontavam uma vitória fácil do “sim” no referendo?

O que esta votação mostrou foi que as sondagens na Colômbia, tal como no Reino Unido com o “Brexit”, não conseguem medir quem vai de facto votar nem quais são as motivações de quem vai votar. O que vimos foi que os que estavam contra o acordo negociado, ou por ressentimento ou porque não queriam um compromisso com os guerrilheiros, estavam mais motivados. Nesse sentido, o resultado não reflecte necessariamente a vontade dos colombianos, mas daqueles que se sentiam mais motivados para participar.

Também mostra o perigo que os líderes políticos correm quando decidem pôr decisões à aprovação do eleitorado, num momento de insatisfação e descontentamento e até revolta popular contra o “sistema”. Não podem esperar que os referendos constituam uma espécie de selo de aprovação das suas políticas: o resultado é incerto e volátil.

O processo de paz fica agora no limbo ou ainda é possível concretizar um acordo entre o Governo e as FARC?

Este processo já dura há quatro anos. Ao longo desse período houve uma variedade de impasses, ou por desacordo entre as partes ou por violência no terreno, e a percepção era de que ia ser impossível, que o diálogo ia terminar. Eu acredito que nenhum colombiano deseja que este seja o fim do processo e que o futuro seja de conflito, pelo que continuo optimista que as negociações vão ser retomadas. Mas será difícil encontrar os novos termos para a conversa depois deste percalço, porque agora o Governo terá de ser mais duro e também porque a confiança das FARC na aprovação do acordo se dissipou.

Em termos políticos, quais são as implicações deste desfecho? Até que ponto se alteraram as peças no tabuleiro político da Colômbia?

O Presidente Juan Manuel Santos sai bastante enfraquecido deste processo. Aliás, antes da votação ele já era um Presidente bastante impopular, com uma taxa de aprovação muito baixa de 30%. Apesar de ser sobre o acordo de paz, a votação também se tornou um referendo sobre ele e o seu Governo.

Álvaro Uribe sai muito fortalecido com a vitória do “não”, ao ponto de hoje já ter ido mais além nas suas exigências. Além do “pacto nacional” para discutir os termos do acordo de paz, já quer alargar a conversa para outros temas: este resultado deu um novo sentido de poder ao seu movimento.

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