Infantário em Palmela sem condições para iniciar ano lectivo

Muitos pais não conseguiram deixar os seus filhos no infantário. Não havia funcionárias suficientes nas salas.

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Três mães estiveram reunidas com directora do centro distrital de Setúbal da Segurança Social esta manhã Rui Gaudêncio

Esta quinta-feira seria o início do ano lectivo para o filho de Joana Mourato. Contudo, isso não aconteceu. Muitas das funcionárias estão de baixa ou com contrato suspenso, porque há cinco meses de ordenado em atraso. Esta mãe optou por não deixar lá o filho, como muitos outros pais. “Não existiam condições para todas as crianças”.

Joana Mourato teve de deixar o filho com um familiar. Decidiu juntar-se ao grupo de pais que estiveram à porta da Segurança Social de Setúbal durante a manhã desta quinta-feira. Márcia Domingos foi uma das três mães que esteve reunida com a directora do Centro Distrital de Setúbal da Segurança Social, Natividade Coelho.

“Saímos desanimadas”, diz a suspirar a mãe de duas crianças do infantário. Na reunião, foi-lhe transmitido que a direcção do Rouxinol será contactada para que a situação seja averiguada. Mas caso as funcionárias não voltem ao trabalho, a instituição que no ano lectivo passado tinha à sua guarda mais de uma centena de crianças poderá encerrar.

Márcia Domingos participou na organização de um arraial realizado no dia 8 de Julho, para angariar fundos para pequenas melhorias na instituição. “A festa correu bem e conseguimos algum dinheiro”. Esta mãe acredita que ainda vão conseguir utilizar o dinheiro para as intervenções que o Rouxinol necessita.

Contactada pelo PÚBLICO, o Centro Distrital de Setúbal da Segurança Social refere estar a acompanhar o arranque das actividades na instituição. Nos próximo dias, irá reunir-se com todas as partes interessadas, "não sendo possível, neste momento, adiantar informação mais detalhada".

Uma das funcionárias, que não quis ser identificada, diz também que não perde a esperança no infantário, mas assume que a “situação está complicada”. “Já é muito tempo sem receber ordenado”, desabafa. Muitos dos funcionários não aguentaram o atraso nos pagamentos e meteram baixa. “Muitos até estão mal emocionalmente”, acrescenta. Neste primeiro dia de aulas, o Rouxinol abriu portas com quatro auxiliares e sem educadoras. Segundo esta funcionária, este quinta feira uma voluntária e uma auxiliar sem formação para a tarefa asseguravam o serviço na cozinha.

A funcionária revela que tem sido difícil contactar com a direcção. Foi-lhes dito que iriam receber o ordenado de Julho e Agosto, mas, mais uma vez, as suas contas ficaram a zeros. Até os pais têm tido dificuldades em contactar a direcção. “Aos poucos pais que deu resposta, disse que estava tudo a 100% para o arranque das actividades.”

O PÚBLICO tentou contactar a direcção do infantário, mas ás 19h desta quinta-feira não obteve resposta.

A Associação de Solidariedade Social de Brejos do Assa- Rouxinol localiza-se entre Setúbal e Palmela e tem infantário, creche e actividades de tempos livres (ATL). O atraso nos pagamentos às funcionárias é recorrente desde 2009. A situação arrasta-se devido a uma dívida da instituição à Segurança Social, que chegou a ser de 500 mil euros. A conta da instituição era bloqueada e as funcionárias não recebiam ordenado.

Em Junho deste ano, António Raposo, presidente da associação, informou o PÚBLICO que a dívida estava nos 300 mil euros. “A dívida foi feita pela antiga direcção e por nós também. Não há receita suficiente para se fazer o pagamento imediato”, afirmou.

No final do último ano lectivo, o Rouxinol tinha 27 funcionárias, uma média de 130 crianças, divididas em três salas de creche, três salas de pré-escolar e uma de ATL. Texto editado por Abel Coentrão

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