A sorte dos angolanos

No próximo dia da independência de Angola, a 11 de Novembro, os leitores, espectadores e ouvintes que vivem no país terão a imensa sorte de poder ler, ver e ouvir todo o discurso do “Camarada Presidente” José Eduardo dos Santos, palavra por palavra. A nova lei de imprensa, segundo os activistas acabam de denunciar, obriga, entre outras ideias inaceitáveis em democracia, que os discursos do chefe de Estado sejam reproduzidos pelos media na íntegra. A intervenção de Eduardo dos Santos no último 11 de Novembro tinha 3261 palavras (ou 21.130 caracteres) e, segundo a app Read Time, demora em média 15 minutos e seis segundos a ler. Numa cerimónia pública, frei Bento Domingues disse outro dia que “uma desgraça sem graça nem desgraça é”. Pois bem. Podemos rir (até) sobre isto e pensar na sorte que os angolanos têm por o seu Presidente não ter o hábito de Fidel Castro, que fazia discursos de sete horas seguidas. Mas é um riso seco e breve. A cada dia que passa, o legado de Eduardo dos Santos torna-se mais turvo.

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