Imperador japonês fala ao país após rumores de que pretende abdicar

Akihito tem 82 anos e teve vários problemas de saúde. Seria a primeira vez em quase dois séculos que o imperador sairia em vida do trono do Crisântemo.

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Terá confidenciado recentemente que gostaria de deixar o trono “dentro de alguns anos” Thomas Peter/Reuters

O imperador japonês Akihito, de 82 anos, vai falar ao país na segunda-feira, anunciou a agência da Casa Imperial, semanas depois de inéditos rumores de que ele tencionava abdicar “dentro de alguns anos” e entregar o trono ao filho mais velho, Naruhito.

Akihito ocupa o trono do Crisântemo desde 1989, depois da morte do seu pai, o imperador Hirohito, mas esta será apenas a segunda vez que falará directamente aos japoneses – a primeira foi em 2011, dias depois do tsunami que varreu o Nordeste do país e destruiu a central nuclear de Fukushima, numa catástrofe que provocou mais de 15 mil mortos. “O imperador vai exprimir o seu sentimento sobre as suas funções, enquanto símbolo” da nação, explicou à AFP um porta-voz da agência que serve de mensageiro da Casa Imperial.

A imprensa japonesa antecipa que Akihito não vai dizer directamente que quer abdicar, mas deverá explicar como tenciona continuar a cumprir as suas obrigações, perante a idade avançada e a saúde cada vez mais frágil. Nos últimos anos, foi operado ao coração e submeteu-se a tratamentos a um cancro na próstata.

A mensagem de vídeo, que será transmitida através da televisão e Internet às 15h de segunda-feira (7h em Portugal continental), foi anunciada três semanas depois de a televisão pública NHK ter noticiado que o imperador confidenciara a jornalistas da agência que gostaria de abdicar “dentro de alguns anos”, por sentir que a sua saúde não lhe permitirá continuar por muito mais tempo a cumprir os deveres de Estado. “Começo a sentir a minha idade e em algumas cerimónias dei por mim a cometer erros”, terá dito.

Citando fontes do palácio, a imprensa noticiou que o plano do imperador tem o apoio de Naruhito, que nos últimos anos começou a substituir o pai em diferentes ocasiões. Também a população japonesa, cada vez mais envelhecida, simpatiza com a ideia de Akihito entregar o trono ao filho.

Mas a abdicação não está prevista na lei da Casa Imperial, que rege o estatuto jurídico do imperador, e boa parte da base conservadora que sustenta o Partido Liberal Democrata, do primeiro-ministro Shinzo Abe, não esconde o seu desagrado com este gesto sem precedentes no Japão moderno – desde 1817 que nenhum imperador deixa em vida o trono, recorda a AFP.

É improvável, no entanto, que alguém se oponha frontalmente aos desejos de Akihito, num país onde é quase um tabu questionar a família imperial. Mas para os satisfazer a lei terá de ser mudada, o que explica que o imperador admita adiar a saída durante alguns anos. Alguns deputados conservadores temem que o passo, além de levantar dúvidas sobre qual o estatuto futuro de Akihito, abra caminho a outras alterações mais polémicas, como a de permitir que as mulheres possam aceder ao trono ou passá-lo aos seus herdeiros, escreve a Reuters.

Uma discussão que se levanta perante o facto de o príncipe herdeiro ter apenas uma filha, a princesa Aiko, que não terá por isso direito a suceder-lhe – quando Naruhito deixar o trono, o seu herdeiro será o irmão mais novo, Akishino, e mais tarde o filho deste, Hisahito, de nove anos, que foi a primeira criança do sexo masculino a nascer na Casa Imperial em mais de 40 anos.

Segundo a Constituição adoptada pelo Japão após a II Guerra Mundial, o imperador não tem qualquer poder de decisão sobre os assuntos da governação, cabendo-lhe cumprir as “funções de representante do Estado” e ser “símbolo da nação e da unidade do povo”. com agências

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