Mais de 200 detenções em nova onda de protestos contra a violência policial nos EUA

Terceiro dia consecutivo de grandes manifestações por todo o país. Movimento de contestação ainda não se compara o de 2015. Líder activista detido em Baton Rouge.

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Manifestantes em Baton Rouge, onde na terça-feira Arlon Sterling foi abatido pela polícia. Mark Wallheiser/Getty Images/AFP

Mais de 200 pessoas foram detidas na noite de sábado em várias cidades nos Estados Unidos, quando protestavam contra a violência policial sobre a comunidade afro-americana. Foi o terceiro dia consecutivo de grandes manifestações nacionais. Registaram-se também vários episódios de confrontos entre manifestantes e polícia, alguns dos quais travados entre pessoas armadas e agentes.

Os dois grandes focos de tensão deram-se em Baton Rouge, na Luisiana, e em St. Paul, no Missouri, onde na última semana morreram Arlon Sterling e Philando Castile, dois homens negros abatidos pela polícia quando aparentemente não representavam perigo, despertando a mais recente onda de contestação sobre o racismo institucional nos Estados Unidos e o tratamento discriminatoriamente violento de pessoas negras às mãos da polícia.

Milhares de pessoas marcharam nas principais cidades do país, mas foi apenas em Baton Rouge e St. Paul que os protestos se estenderam até à manhã deste domingo. Em St. Paul, onde manifestantes impediram o acesso à principal via de trânsito, a polícia foi atingida com garrafas e pedras que feriram cinco agentes sem gravidade. Para dispersar o protesto a polícia recorreu a granadas de atordoamento e fumo. Foram detidas mais de 100 pessoas, sobretudo por desobediência.

Em Baton Rouge, mais de 120 manifestantes foram detidos. Entre eles encontra-se DeRay McKeesson, a voz mais sonante do movimento Black Lives Matter, que nasceu da primeira onda de revolta na comunidade afro-americana contra a violência policial, já há três anos. McKeesson estava a emitir no Twitter imagens de uma marcha de dezenas de pessoas ao longo da estrada quando foi detido, filmando inadvertidamente a sua própria prisão.

No vídeo, DeRay McKeeson diz repetidamente que não existe passeio por onde os manifestantes possam passar; em fundo ouvem-se os repetidos alertas da polícia a dizer que seriam detidos todos os que invadissem a estrada. “Vejam a polícia: está literalmente a provocar as pessoas”, diz McKeeson, antes de a imagem ficar trémula e se ouvir “Polícia municipal: está detido”. Foi acusado este domingo de obstruir a estrada.

As mortes de Arlon Sterling e Philando Castille reacenderam os movimentos de contestação nacionais contra a violência policial nos Estados Unidos, mas a envergadura dos protestos e os confrontos registados até ao momento não se comparam com os motins do último ano em Baltimore, por exemplo, no rescaldo da morte de Freddie Gray.

Apesar disto, teme-se que as tensões possam explodir a qualquer momento, especialmente, como escreve o Washington Post, dado o grau de nervosismo nos agentes de autoridade depois de, na quinta-feira, um homem negro ter abatido cinco polícias em Dalas, no Texas, alegadamente como vingança pelas mortes de Sterling e Castille.

A tarde de sábado trouxe um momento de especial tensão em Baton Rouge, quando poucas dezenas de membros do New Black Panther Party marcharam até à esquadra da polícia e insultaram polícias de choque, chamando-lhes “porcos”. O grupo, que, apesar do nome, não é um partido nem tem quaisquer ligações com o movimento Black Panther dos anos 1960, defende ainda assim alguns dos seus ideais revolucionários e o nacionalismo negro. Alguns destes manifestantes estavam abertamente armados, o que é legal no Luisiana. A polícia começou a dispersar o protesto depois da chegada do grupo e comunicou apenas algumas detenções e o confisco de duas armas. 

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